1.9.10

As minhas dores

Consegui recuperar alguns hábitos que me fizeram muita falta durante anos. Encontrando-me com tempo para dedicar a mim própria recomecei a fazer aquelas coisas que me dão imenso prazer e das quais me tinha simplesmente esquecido. Recomecei a frequentar as sessões do Cineclube ainda que quinzenalmente, recomecei a deitar o olho aos concertos e às peças de teatro, recomecei a comprar livros. Durante cerca de dez anos li apenas um livro por ano, a minha avidez pela leitura morreu. Li desalmadamente pela adolescência fora, encontrava-me dentro de livros e vivia neles a maior parte do meu tempo, e custava-me imenso deles sair. Li livros que eram para a minha idade e que não eram para a minha idade. Depois casei-me e continuei a ler, tinha muito tempo para mim com um marido que viajava a maior parte do tempo. Depois tive um filho e o tempo para ler fez-se pouco. O tempo para ir ao cinema, concertos e todo o tipo de espectáculos fez-se nenhum. Depois tive outro filho e os dois eram todo o meu tempo, toda a minha vida. À noite, aquele tempo de silêncio de nada rendia, vencida pelo cansaço a leitura era simplesmente impossível, tentava mas de nada servia. Levantá-los, vesti-los, pequeno-almoço, escola ou infantário, trabalho, banho, deitá-los, sozinha porque no meu caso durante a semana não havia com quem repartir as tarefas, tudo isto fazia com que tudo o que lesse fosse inútil. Desisti de ler simplesmente, não valia a pena, não retinha absolutamente nada. As férias grandes, sim, um livro cuidadosamente escolhido, da lista que mentalmente ia fazendo, os que queria ler. Sentia-me reduzida a quase nada por só ser capaz de ler um livro por ano. Sou uma grande parva, não sei organizar-me, não faço a gestão do tempo como devia fazer, deveria conseguir ler mais, não leio mais por exclusiva responsabilidade minha. Nunca culpei fosse o que fosse ou fosse quem fosse pela minha falta de disciplina. Hoje, com tempo para dedicar a todas as coisas que gosto de fazer, com oportunidade de investir no meu prazer pessoal, os livros são o que mais me custa. Não preciso de sair de casa, não preciso de fazer rigorosamente nada, basta pegar neles e abri-los. Não percebo porque me custa tanto. Não percebo porque me doem tanto os livros.

30 comentários:

Bípede Falante disse...

Jacklyn, quando as crianças são crianças pequenas, nossas vidas ficam mesmo um tanto repetitivas e focadas no imensa energia que elas nos consomem, mas eles vão crescendo e nos liberando e vamos voltando às nossas almas e ao que nos faz feliz.
bj.

grassa disse...

Doem-te os livros?

Devias ir a um alfarrabista ver disso.

jacklyn disse...

Sim Bípede, mas há coisas que custam menos e outras mais, infelizmente :(

jacklyn disse...

E achas que um alfarrabista me resolve o problema grassa? Conheces algum porreiro?

grassa disse...

Conheço um que é bem capaz de te fazer virar a página.

jacklyn disse...

Não serve, tem de ser um que me faça abrir a capa.

grassa disse...

Algo que te sirva de marcador?

jacklyn disse...

O marcador só tem utilidade depois de abrir e começar.

grassa disse...

Já alguém te passou do prefácio?

jacklyn disse...

Nada. Só a capa.

grassa disse...

Se calhar nunca ninguém te escreveu...

jacklyn disse...

Porque eu não dou a morada.

grassa disse...

Ou se calhar o teu escritor é fantasma...

jacklyn disse...

Grassa meu amor. Não te distraias comigo, estou a adorar a coça que estás a dar ali ao pequeno ;-) Ui... até me arrepio. Muuuuundo!!!

grassa disse...

Não sei do que falas.

jacklyn disse...

Ora vai lá ver que ficas já a saber.

jacklyn disse...

Mas o gajo está a demorar, por isso...

Qual escritor? E fantasma ainda por cima? Porra, carne e osso, por favor. E pele, e flúidos, pode ser? Obrigada.

grassa disse...

Apagou o post por inteiro. Patético.

jacklyn disse...

Já vi. Fraco, muito fraco. Worthless. Estás admirado? Viu-se apertado e acagaçou-se. Típico.

Isa disse...

"Depois tive outro filho e os dois eram todo o meu tempo, toda a minha vida."
tu dizes coisas tão banitas mulher ...

Isso dos livros, porque estás ocupada a escrever o tu próprio livro ...será?



O Grassa é daquelas pessoas que eu dou como exemplo, quando digo que caí na nata da blogosfera ao conhece-lo(s). E digo isto, muito antes de hoje, que hoje foram pérolas a porcos.

Já que estou aqui e foi, parece-me, uma coisa minha que despoletou a situação, aproveito para agradecer-vos. Por existirem.

jacklyn disse...

Minha querida,

Não foi uma coisa tua que despoletou a situação. Foi ele. Ele é que a "brilhante" ideia de te insultar. E quem se mete à besta contigo come! Mai nada!

Mas tenho pena que haja gente assim.

jacklyn disse...

E sim, estes moços e moças são do melhor que há, eu também caí no meio deles por acaso, mas só "conheço" melhor o grassa. O PW ainda me dá alguma trela, os outros não. Mas gosto deles todos. Acho-os absolutamente brilhantes.

jacklyn disse...

Faltou ali um "teve"
Ele é que teve a "brilhante" ideia de te insultar.

Isa disse...

:D

Todos! Brilhantes mesmo, eles e elas. Independentemente da "trela" que nos dão e independentemente de hoje. Mesmo que não tivesse havido hoje.
Tu incluida, claro.

grassa disse...

Não somos brilhantes: somos fluorescentes. É diferente.

jacklyn disse...

Ah... fluorescentes. Eu sei que é diferente. Não sei é porque é que fluorescem em vez de brilharem. Explicas-me? :)

grassa disse...

A diferença reside na própria concepção de fluorescência.

Para fluorescer, é necessário primeiro absorver aquilo que se emite. No nosso caso, são inspirações. Inspirações que podem tomar infinitas formas.

jacklyn disse...

Lindo, grassa. Lindo!

(imitando a Isa)

Chuáque!!!

grassa disse...

Pois sou, jacklyn, pois sou.

jacklyn disse...

Pois és.