31.5.10

Crivo

Os outros não passam da percepção que temos deles, assim ainda que eventualmente referindo outros estaremos sempre a falar essencialmente de nós.

Não

Não. Não gostei da sensação. Definitivamente não sirvo para isto, é contra a minha natureza. Fico aqui. A vaidade e a hipocrisia são coisas muito feias. A primeira, que de vez em quando me turva passa logo a seguir a clareza que, como água lava e leva consigo a estúpida ideia de que quem possui a segunda possa alguma vez removê-la, essa nódoa que se esconde não conseguindo porém disfarçar o desconforto.

28.5.10

Sempre dá!

Ontem, duas colegas minhas andaram a matar a cabeça com um pedido de uma malha com um determinado tratamento/efeito, que os nossos fabricantes garantiram que era impossível de reproduzir a cem por cento, mas que se conseguiria fazer algo de parecido. Ora, algo de parecido não dá, tem de ser igual, e eu meti-me ao barulho, o que não é difícil pois estamos na mesma sala, e concordei com elas que aquilo é possível. Lembrei-me de falar com um amigo meu, que por acaso é fornecedor de vários dos nossos fabricantes porque se ele não soubesse aquilo ninguém sabia, ele é fornecedor de malha. Hoje de manhã telefonei-lhe, expus o caso e perguntei-lhe se era possível ou não. Ele confirmou que sim e explicou como se faz, coisa que nós tinhamos imaginado, mas obviamente sem conhecimento dos detalhes técnicos. Ah, sempre dá! Ontem toda a gente nos disse que não, afinal não somos assim tão burras, disse-lhe eu, a entrar com ele. Ao que ele respondeu, naaaa, vós burras não sois, sois é chatas cumó caralho!!! Barrigada de riso, claro.

27.5.10

Romance

Contexto: à chegada de uma visita de estudo ontem, do mais novo que, tem 6 anos:

Ele: Oh mãe, a Mariana já gosta de mim outra vez!
Eu: Ai sim? Conta lá.
Ele: Ela gostava de mim, eu também gostava dela. Depois ela deixou de gostar de mim e eu, claro, deixei de gostar dela. Ela começou a gostar do Hugo.
Eu: Ah, percebi, e então?
Ele: Agora já gosta de mim outra vez, e gosta por amor!
Eu: (um nadinha baralhada) E começou a gostar outra vez agora, foi?
Ele: Foi, o Hugo não trata bem dela!
Eu: (já em estado de choque, o caramelo sacou a namorada ao colega ?!?) A sério? Estou admirada, pá! E conta lá como é que foi hoje? Foi fixe?
Ele: (entusiasmadíssimo) Foi, ela deu-me um beijo. Eu estava a ver o filme, sabes? No autocarro, e ela veio ao pé de mim, tirou-me o cinto (de segurança, que fique bem claro!) e deu-me um beijo!
Eu: (Oh balhamedeus!) E tu que fizeste?
Ele: Fiz-lhe cócegas!
Eu: Onde???
Ele: Na barriga.
Eu: E ela?
Ele: Ela riu-se.

Mais tarde, no carro ouvi de esguelha que o beijo tinha sido na boca, (loucura!!!) ele a contar ao irmão, que se ria como um perdido.

Fiz de conta que não ouvi, não me ocorreu fazer mais nada.

26.5.10

Receita






Pegue-se nisto;







E coloque-se disto;
















Depois, junte-se disto;
















E mais isto;










E ultime-se com isto.






Depois contem-me como foi.

25.5.10

Diz-lhe

Diz-lhe que não, que não espere nada e que nada tens para lhe dar. Não posso faltar-lhe assim ao respeito, não posso. Ele nunca me pediu nada, nem agora, ele nunca cobrou nada, apenas gosta de mim há vinte anos e durante vinte anos menos dois meses nada soube de mim. Mas aposto que te procurou porque soube que te divorciaste, aposto que pensa que tem agora a oportunidade dele. Talvez, mas isso não muda nada, nem o sentimento dele nem o meu. De que adianta magoa-lo? Não, não posso. Se durante estes anos todos o sentimento ficou sem saber do meu paradeiro, sem esperar nada em troca, não serão as minhas palavras que farão a diferença. A ausência é muito pior do que as palavras, a ignorância é muito pior do que as palavras, e ele aguentou tudo por uma ideia do que poderia ter sido. Ele é coerente. Ele é desonesto com toda a gente à volta dele mas manteve-se honesto com ele próprio, quase que o admiro por isso. Quase. Fez da própria mulher a segunda escolha, quase que o desprezo por isso. Quase. Desde que retomamos o contacto nunca foi indelicado, nunca fez um comentário impróprio, que direito tenho eu de o confrontar com um facto que o destroçará? Não tenho direito algum. O que ele sente é dele, não é meu e nunca será. Invadir esse espaço é faltar-lhe ao respeito. Não posso. Não digo.

Corda

O meu vizinho daqui do escritório chamou-me lá fora para me dizer que lhe fiz uma mossa na carripana velha que tem. Está lá uma marca de tinta escura é um facto. Mas não fui eu, tenho a certeza disso. Ele foi verificar todos os carros que costumam estar estacionados naquele sítio e encontrou no meu pára-choques uma marca que corresponde, acha ele, à mossa. Não fui eu, mas não vi justificação para um confronto. Disse-lhe que mandasse arranjar que pagava. Disse-lhe que não me apercebi. Disse-lhe que não iria discutir com ele. Calei-me. Amanhã deixo o meu carro mesmo ao pé do dele e chamo-o. Mostro-lhe que a mossa dele não bate certo com o arranhão no meu pára-choques, não estão à mesma altura. Hoje dei-lhe a corda toda, amanhã provo-lhe que está errado. Na vida, há situações em que não vale a pena o confronto, dê-se corda e espere-se pela oportunidade de provar que se tem razão. É menos desgastante e mais eficaz. É a isto que eu chamo mostrar o espelho, por exemplo.

Old friends, old bruises.

Quando os verbos começaram a ser utilizados no presente em vez de no pretérito perfeito percebi que provavelmente aquilo que me atingiu como uma pedrada na cabeça aqui há tempos, mas que secretamente desejei que fosse passado ainda que subsistindo a dúvida, afinal não é passado, é presente:

Ele: não é fácil...
(respeirei fundo, enchi-me de coragem)
Eu: mas o que estás a dizer? isso já passou, certo?
(pausa)
Ele: olha as horas, é tardíssimo, amanhã não nos levantamos.
(arrependi-me imediatamente)
Eu: tens razão, vamos dormir, amanhã nem de grua
(e despedimo-nos)

Foi o final da conversa, hoje sem eu querer, ele levou-a novamente para o assunto, aquele assunto, que não foi abordado desde então, desde que senti o soco no estômago com a revelação, a revelação. Outro soco hoje, este dói mais, foi em cima da ferida, onde já tinha magoado antes e que durante algum tempo achei que tinha sarado. Mas não, ainda me dói. Que lhe doa.

24.5.10

Chuva

23.5.10

Voar

Sentir-te na pele faz-me voar, encheste-me de boa energia. Sinto-te no corpo, ainda, estás presente em todos os movimentos. Nada se compara aos momentos que passo contigo, dou-me, dás-te e eu absorvo tudo o que consigo. Fecho os olhos e sinto-te. E voo.

Dói-me tudo, qu'esta merda de passar um dia inteiro na praia debaixo de Sol deixa marcas.
Faz mal, eu sei.
Mas é tão bom.

21.5.10

She's in fashion

Under pressure

E se à noite, depois das crianças adormecerem e enquanto não vem o sono, eu aproveitasse o tempo para estudar? E se à noite, em vez de ver os documentários do National Geographic e do Discovery Channel eu aproveitasse o tempo para estudar? E se à noite, em vez de ficar a pastar no sofá eu fizesse alguma coisinha de útil por mim abaixo? Tenho de investigar, há-de haver alguma coisa que me interesse, que não exija a minha presença nas aulas, e que me retire da puta da pasmaceira onde estou enterrada até ao pescoço. Mas não pode ser tudo, tudo à minha maneira que perde o interesse. Tem de ter prazos definidos, eu funciono muito melhor sob pressão.

19.5.10

Low maintenance

Quando se trabalha num sítio onde praticamente só há mulheres é fácil cair na tentação das comparações. Há-as para todos os gostos, desde as mais sofisticadas às mais singelas. Todas estas mulheres, no seu conjunto, me fazem pensar em mim. Todas estas mulheres têm uma coisa em comum, que eu não possuo. Todas elas têm cuidado com a aparência, umas mais do que outras é certo, mas mesmo aquelas que não são muito sofisticadas revelam algum cuidado, seja a combinar as peças de roupa, seja com os acessórios, seja com as cores ou os modelitos da moda. Vê-se que investem nessas coisas, seja dinheiro seja tempo. Elas compram cosméticos à colega que vende por catálogo, elas compram a sandália ou o sapato logo que o tempo aquece, elas aparecem com um top ou um cinto, elas exibem os últimos brincos. E eu olho por mim abaixo e percebo que só compro as merdas de que efectivamente preciso, que não gosto de ir às compras sempre que há um tempinho, em vez disso compro as coisas que me fazem falta todas de uma vez e têm de combinar todas umas com as outras e com as que já tenho em casa que é para não ter de voltar às lojas nem ter de pensar muito naquilo que vou vestir. Que sou capaz de andar um mês com o mesmo par de botas, que sou capaz de andar semanas com o mesmo casaco, que só tenho peúgas e roupa interior preta, toda igual ainda por cima, que não tenho uma peça de roupa estampada, que as pulseiras que meto no pulso no Verão são as mesmas de há anos. Que nunca na puta da minha vida fiz uma limpeza de pele, que não tenho e nunca tive um creme de dia e outro de noite, que nunca fiz uma máscara no cabelo, que nunca usei um creme anti-celulite. Vou ao cabeleireiro, que por acaso é a minha mãe de longe a longe para pintar o cabelo em castanho escuro, a minha cor natural  para cobrir os cabelos brancos, de resto trato eu dele quando tenho tempo, quando não tenho fica por conta própria e maquilho-me esporadicamente, quando estou mais triste e a fronha mete mesmo impressão ou quando há casamentos, e nem todos. Nunca fiz uma pedicure e manicure devo ter feito umas três vezes. No entanto sinto-me muito mais mulher do que provavelmente a grande maioria delas.

18.5.10

Tédio

Por mais que procure não encontro nada, nadinha que me apaixone. Zero. Penso, penso, penso e não aparece nada que me faça sorrir por fora e por dentro. Durante anos o trabalho apaixonou-me, agora já não. Não tenho nenhum hobbie para além de escrever em blogs, coisa que ainda me vai dando algum gozo. Não mantenho nenhuma actividade que realmente me dê prazer. Há coisas que gosto de fazer é certo, como ir ao cinema ou ao teatro e ir a concertos, mas não passam de coisas banais. Gosto de sair à noite, de dançar e conviver. Coisas banais. Poderia falar dos meus filhos, mas não se trata de paixão, é amor, não tem nada a ver. É um amor maior do que tudo, maior do que eu. Mas, este amor preenche apenas uma parte, a parte da mãe e uma pessoa não é só mãe, é também composta de outras características, e essas andam mal preenchidas. A mulher, vai-se entretendo e divertindo com os homens que também acabam por a aborrecer, e a outra parte, essa está vazia. Essa parte é a que constata que as pessoas em geral me aborrecem, o trabalho me aborrece, as notícias me aborrecem, basicamente o mundo me aborrece. E ando assim, triste. Olho o mundo sem interesse, sem pinga de entusiasmo. Preciso de um projecto, ah pois, é verdade, já tenho um, mas também não me apaixona. Devia, tratando-se da minha casa, da renovação da minha casa, com que sonhei durante anos e que finalmente se concretiza, devia entusiasmar-me, ao invés só de pensar na canseira que me vai dar, nas consumições que irei ter, fico exausta. Esta merda não é normal.

Quanto mais ando mais sinto que estou cheia desta merda

O que era extremamente estimulante não passa agora de, ok mais um. Os desenhos, as cores, as formas e as matérias-primas que dantes me faziam sonhar transformaram-se em meros detalhes a organizar e transmitir. O conceito que tanto me agradava dissipa-se entre todos os outros. As pessoas, antes simpáticas e divertidas, neste momento só me aborrecem.

17.5.10

Estou aqui

"Põe-te fino pá. Vamos ter de o segurar e prepara-te porque não vai ser fácil. Ele tem andado um bocado chato mas isto não tem nada a ver, percebeste?"

Disse isto hoje ao meu irmão, depois do almoço, a respeito do meu pai. Está de rastos o meu pai. Recebeu a visita do irmão, o único irmão com quem mantém contacto, tem outro com quem se zangou há anos e um outro que já morreu. Também tem irmãs, mas irmãos homens, resta-lhe este, e este meu tio está um caco, vimo-lo no ano passado e estava óptimo, entusiasmadíssimo com o casamento do filho, um surdo-mudo de 40 anos que encontrou uma surda-muda da mesma idade e se casou com ela em Julho do ano passado deixando assim os pais menos carregados. Mas ao meu tio foi-lhe diagnosticada uma esclerose (que não sei bem o nome, não fixei até porque me foi dito em francês, a minha tia é francesa) que lhe lhe vai atrofiar todos os músculos do corpo, e já é bastante notório o avanço da doença. E é isto, foi um grande choque para todos, mas principalmente para o meu pai, que só vê o irmão uma vez por ano, está emigrado em França vai para 45 anos. Um homem poderoso, este meu tio. Esteve na Guiné na guerra, depois emigrou para França. Embeiçou-se por uma francesa uma noite numa festa, e engatou-a. Descobriu que ela tinha uma filha deficiente, e mesmo assim casou com ela. Tiveram 4 filhos, e hoje têm 6 netos. Trabalhou toda a vida na construção civil, construiu a casa dele e de alguns dos filhos e nesta altura da vida, já só com a mulher, a vida bem organizada e confortável, na casa dos sessenta, ainda com tanto para fazer e aproveitar, desaba tudo e a vida tal como a conhece pulveriza-se num diagnóstico médico.

Só para dizer que de repente tudo se transforma, sem aviso prévio nem tolerância de ponto. E eu, perante isto sinto-me o mais mesquinho dos seres, cheia de merdas, ai estou triste e tal, quando nada disto tem a mínima importância perante esta situação. O meu tio, infelizmente não posso ajudar, está longe. Mas o meu pai vai precisar de mim, sei-o. Estou aqui.

15.5.10

Memórias

Vi a minha primeira professora de piano. Está velhinha, de cabelo todo branco e bengala. Enquanto eu fumava o meu cigarro na esplanada, lascivamente aproveitando os raios de Sol, avistei-a do outro lado da estrada. Os mesmos lábios vermelhos e as mesmas sobrancelhas de risco preto que aos sete anos me fascinavam e agora me enternecem, e o mesmo corte de cabelo só que agora branco. Aquela mulher nunca teve uma aula de música na vida, mas ensinava miúdos e miúdas a tocar piano e acordeon. Uma auto-didacta, que se casou com um homem viúvo com vários filhos já adultos. As aulas eram dadas em casa dela, numa salinha contígua ao hall e muito raramente era permitida uma visita à cozinha para um copo de água. Foram uns anos de D. Quininha, depois passei para uma escola de música à séria e só mandei aquilo tudo à fava aos 14 anos. Era portanto uma menina muito prendada, tocava piano e falava inglês, devia ser francês mas serve. Ficou o piano, que está em casa dos meus pais, ninguém lhe toca nem o toca há muitos anos. Ficou a memória da menina prendada, bem comportada, a melhor aluna da turma, que atravessou a adolescência relativamente calma, e que só começou a dar dores de cabeça aos pais quando aos 15 anos resolveu que queria ser piloto da Força Aérea, foi até Lisboa sozinha para fazer testes na Base do Lumiar e só desistiu da ideia quando se apaixonou pelo homem que viria a ser o marido e o pai dos filhos. Pensava-se que tinha encarreirado, respirou-se fundo, mas não, está-lhe no sangue, divorciou-se ao fim de 12 anos de casamento, com duas crianças pequenas e está sozinha. Tudo de pernas para o ar outra vez.

14.5.10

Feitos

E quando esta manhã recebi a confirmação da reserva fiquei toda contente. Mesmo contente. Fiquei satisfeita comigo, consegui fazer aquilo que na minha cabeça iria ser de certeza uma tarefa monstra. So full of myself. E agora, consegui que não falhasse uma única cor de nenhum dos modelos, e são muitos, que saem hoje em duas malas cheínhas para Paris, destinados à sessão fotográfica da colecção de Verão 2011 do meu maior cliente. Estou satisfeita. Full of myself. E há cerca de duas semanas finalmente entreguei os papeis todos à minha amiga solicitadora para que ela trate das merdas todas relativas aos meus impostos e à compra da minha casa. Satisfeita, full of myself. Tudo muito bem, e isto tudo que escrevi é absolutamente verdadeiro. Tão verdadeiro como a tristeza que ainda cá dentro, estúpida, reina so full of herself.

13.5.10

Férias

A planificação das férias de Verão foi durante anos motivo de angústia para mim. As do ano passado foram as possíveis e por isso mesmo, foi muito simples. Além disso foram muito boas. Este ano o assunto já me estava às voltas na cabeça sem conseguir chegar a conclusão alguma. Primeiro é sempre necessário conciliar as minhas férias com mais seis pessoas, visto que trabalhamos todas na mesma sala e o escritório não fecha portanto têm de ser planeadas de maneira a que fique sempre alguém a segurar as pontas. Depois porque os miúdos vão estar com o pai de 1 a 15 de Agosto, o pai deles, pessoa organizadíssima, já tem as férias marcadas há meses, mas o facto da empresa onde trabalha fechar completamente naquele período determinado logo no início do ano clarifica imediatemente quando os funcionários podem marcar férias. Bom, hoje lá no trabalho ficaram decididas as nossas férias e vou estar uma semana de férias com os meus filhos. Só, pois. Custa-me é um facto. O pai vai estar duas semanas com eles e eu vou estar apenas uma e as outras duas vou estar sozinha. Então falei com eles, expliquei-lhes e perguntei-lhes o que lhes apetecia fazer nessa semana. Começaram por perguntar o que vão fazer o resto do tempo. Vão ficar na avó durante o dia, quando começarem as vossas férias grandes a mãe ainda vai estar trabalhar, depois a mãe fica de férias e vamos estar uma semana juntos, e a seguir vocês vão duas semanas para o Algarve com o pai, expliquei eu. Dilema: vamos para um sítio qualquer de avião, diz o mais velho; se for para andar de avião prefiro ficar em casa da avó, vão vocês, diz o mais novo. Ok, isto não vai ser fácil, penso eu. E se fossemos passar uma semana a qualquer sítio fixe, na praia, não muito longe para podermos ir de carro? Lancei o repto. Mas mãe, já vamos com o pai para a praia, porque não vamos para outro sítio sem ser praia? Boa questão, vamos lá escolher uma cidade porreira para visitarmos e vamos os três conhecer aquilo tudo? Ena mãe, grande ideia! Enquanto ligavamos o computador lembrei-me da Corunha, não é longe, tem mar e há montes de coisas para ver. Mas enquanto procuravamos hoteis lembrei-me de outra coisa. Mostrei-lhes na internet um hotel que descobri numa revista, a uma hora daqui, no meio do monte, ao pé de um rio, que tem programas de desportos radicais como escalada, btt, parapente e por aí fora, e ainda por cima dentro do orçamento previsto.  Maravilha! Ficaram deliciados com o hotel, com a serra, com o rio, com a piscina, com o parque infantil, e gritaram: É este, mãe, é mesmo este! E, tinha lá uma foto de um helicóptero paradinho à frente do hotel (francamente nunca tinha visto aquela fotografia) Uau!!! Oh mãe, será que dá para dar uma volta de helicóptero? Sei lá, mas se realmente houver um programa que seja dar uma volta de helicóptero e não for muito caro, vamos andar de helicóptero! Já está, já mandei o e-mail com a reserva. Nunca decidi umas férias assim. Tão fácil, tão rápido e com tanta excitação.

Agora só me falta saber o que vou fazer nas outras duas semanas, sem filhos, sem pais que vão de férias precisamente nessa altura, e sem amigos que vão estar ainda todos a trabalhar, mas essa parte não há-de ser difícil.

Estanque

Mudei de ideias e concordei em sair novamente com o gajo do flirt. Mudei de ideias e pensei mesmo em conduzir a coisa até ao sexo. Fui. Curiosamente não senti o que achava que iria sentir quando estivesse perto dele, curiosamente fiquei-lhe imune. Frente a frente, olhos nos olhos e nada. Um gajo que antes me acendia nem uma faisquinha só provocou. Cagando na atitude, cagando na conversa e no histórico, olhando só o macho, ali à minha frente, e nada. Não aconteceu nada, um beijo sequer. Porque eu não quis evidentemente, ele nem ousou, pormenor que eu já sabia, e assim é que tinha de ser. Portanto confirma-se que, não estando eu com a puta da cabeça no sítio certo, não há gajo que me desencaminhe. O que é bom. Constata-se também que quando estou porreiraça, quem desencaminha sou eu, o que também não é mau. Mas o mais importante desta merda toda, e analisado "à posteriori" é que não é pelo facto de estar triste ou menos animada que acabarei na cama com quem não quero, com os sentidos toldados pela procura de qualquer coisa disfarçada de conforto ou consolo, para a seguir me arrepender. Continuando o exercício, verifico que esta alminha é estanque a factores exteriores relacionados com o gajedo. Não são os gajos que me animam ou desanimam. Ou estou bem ou não estou. O gajos entram ou não entram, a chave tenho-a eu.

12.5.10

Tinta

Quando estou assim, triste, olho-me ao espelho e acho que aquele rosto precisa de alguma coisa. Então maquilho-me. Acho sempre que a sombra e o blush trazem um pouco de brilho. Inútil tentativa de tapar o Sol com a peneira, serve apenas para fazer batota. Eu gosto daquele rosto, só não gosto da tristeza, que atenuo ligeiramente de manhã com as pinturas mas que regressa em força à noite, quando já de cara lavada me olho ao espelho e penso outra vez que aquele rosto precisa de alguma coisa.

11.5.10

Pé ante pé

A pior tristeza é aquela que não se sabe de onde vem. Aquela que chega de mansinho, que nos invade só um bocadinho a cada dia, que se sente vir mas quase que passa despercebida. Aquela que não faz sentido, que não se entende e que por isso se transforma numa bola de neve que galgando as entranhas toma posse de tudo. Aquela que se disfarça de fraca para de um momento para o outro explodir dentro de nós e dominar todos os gestos, todos os pensamentos e pintá-los de angústia. Aquela que da mesma forma que não se sabe como nem de onde veio, não se sabe se partirá.

10.5.10

Ninho

Ontem à noite fui ao cinema, um filme de caca, daqueles só para entreter. Só para atenuar as saudades. Ao final da tarde achei que já era demais e decidi, levantei-me tomei um duche e saí. Já não aguentava o silêncio da casa, já não podia com o meu mundo sem eles. Hoje só me apetece o meu ninho com as minhas crias, uma debaixo de cada asa, no quentinho que está frio e são eles que me aquecem. Estão a acabar o jogo, a seguir... ninho.

9.5.10

Sunday

Causa-efeito

Não sei me obrigo a ser racional porque me sei intensa ou se me permito ser intensa porque me sei racional. Hei-de descobrir.

7.5.10

Wtf ?!?

Desconfio sempre de gajas que usam malas ou acessórios daquela gata insuportável, a Kitty, ou daquele urso patético, merda que me esqueci do nome, foda-se, como é mesmo que se chama a puta da marca... ai o caralho... ah, Tous, é isso. Mas essas merdas não são para as miúdas pequenitas da escola primária? Já agora porque não cenas da Barbie? A mania de não querer envelhecer está a dar-lhes cabo dos neurónios, só pode. Se mulheres adultas de 30 e tal anos andam com merdas de miúdas de 10, quando estiverem na casa dos 50, 60 vá, vão achar-se com 30 e tal, máximo 40. Mas porque é que estas mulheres usam coisas de criança? E se aos gajos lhes dá para usarem camisolas e calções do Ruca? Ou relógios de outra merda qualquer para putos? Acham bem? Acham giro e fofinho? Eu não, de todo. E também desconfio que um gajo em condições não sinta pica nenhuma por uma tipa com um acessório acriançado.

Mau...

Vamos lá ver se nos entendemos. Da última vez que me fizeste isto fiquei muito chateada mas perdoei-te. Agora, desculpa lá mas estás a tornar-te um bocado repetitivo. Quer dizer, iludes-me, enrolas-me e fico eu a pensar que vou passar um fim de semana em grande, que me vou descascar e sentir o teu calor na pele, que me vais percorrer o corpo com o teu toque suave, fico a imaginar coisas boas contigo e tu fintas-me outra vez? Mas que é isto? Andamos a brincar? Já devias ter percebido que nestas merdas aqui a gaja não gosta nada que lhe acenem com promessas que depois não dão em nada. Nem devias sequer dar o ar da tua graça percebeste? Deixavas-te estar quietinho lá pelo teu canto e eu ficava sossegadinha, sem expectativas nem fantasias. Prefiro que nem sequer te mostres ouviste? Por isso, Sol do meu coração, ou te decides e de facto apareces com todo o teu esplendor e me proporcionas uns bons momentos desnudos na praia ou está tudo acabado entre nós. Porra pá!

6.5.10

Zero

Esta é uma daquelas noites em que, sozinha em casa depois de um dia de trabalho no lombo daqueles que deixam o corpo moído e a cabeça vazia, o cansaço é demasiado e a paciência nula para esperar que a banheira encha. A alternativa seria uma boa massagem e umas cócegas na cabeça até adormecer, mas isso implicaria ter de levar com um moço, que se ajeita muito bem e até é meiguinho, mas como já disse não há paciência, nem energia para o que provavelmente a massagem iria despoletar. Na ausência disto tudo, vou meter-me na cama, fechar os molhos e tentar ficar imóvel na esperança de adormecer rapidamente. Há noites assim, e depois? Só vim aqui escrever esta merda porque foi a única coisinha que me apeteceu fazer.

(Foda-se que ainda tenho de me despir, tomar um duche, lavar os dentes e vestir o pijama, puta de trabalheira...)

5.5.10

Filhos da puta

Amanhã, não, amanhã não, hoje, às 9:00h da manhã começa mais uma sessão de... de... daquilo... em que me sinto muito mal na minha pele, em que os minutos custam a passar, em que faço das tripas coração para ser simpática e agradável. Tudo o que detesto. Já tive cliente que recebia com todo o gosto, mesmo trabalhando que nem uma burra às vezes 14 horas por dia, que uma semana passava a correr, que os levava a jantar e a passear pela cidade, e que, com o tempo ficaram meus amigos. Estes, os que chegam amanhã, não os conheço. Não conheço as pessoas, as pessoas são pessoas independentemente da profissão. Mas conheço este cliente, esta empresa e este projecto, e estas três criaturas fazem parte da equipa que me obriga a seguir burocracias estúpidas. É que tenho de o fazer não lhe encontrando qualquer lógica, o que me fode completamente a cabeça. Posso ter de fazer merdas de que não gosto ou com as quais não concordo, mas se lhes vir um sentido e alguma coerência, que se foda, faço. Mas, tendo de alinhar neste esquema não alcançando a lógica da coisa, puta que pariu, é muito ruim. Há gente, que só para mostrar serviço às chefias, sem qualquer utilidade prática, não hesita em foder a vidinha aos outros. Filhos da puta.

1.5.10

Dentro de mim

Pela primeira vez hoje, ainda agorinha, passado quase um ano, ouvi as palavras "mãe, mas eu queria ficar contigo..." Os últimos 3 fins-de-semana ficaram comigo por motivos de força maior incluindo deveres profissionais do pai, e hoje o pequeno não tem muita vontade de ir, pela primeira vez. Dói-me o coração. Tenho a certeza que têm saudades do pai, que vão divertir-se imenso e que vão gostar. Mas aquelas palavras quebraram-me e sei que este fim-de-semana, para mim, vai ser diferente dos outros todos que passei sem eles.