23.9.10

Rostos

Vi há dias uma das raparigas mais populares do meu tempo de liceu. Hoje vi outra. E há ainda outra que rejo frequentemente. Todas muito giras e boas na altura do liceu. Maquilhavam-se e usavam as roupas da moda. Tinham os rapazes todos de volta delas. Eram as maiores. A primeira namorava com um tipo que era lindíssimo mas completamente louco. Dava-lhe ordens e estalos na cara, nem sempre por esta ordem. Ela engravidou e casaram-se. poucos anos depois divorciaram-se porque segundo as más-línguas os estalos evoluíram para grandes cargas de porrada. Quando a vi no sábado passado ia com  filha, uma pré-adolescente, e ela, a mãe, falava nervosamente ao telemóvel. Nervosa, muito nervosa. A que vi hoje era uma miúda engraçada, alegre e gaiteira. Desconheço-lhe o percurso de vida, mas hoje passeava-se nos corredores do super mercado, gorda e feia, arrombada e desleixada, cara fechada e passos lentos. A terceira é caixa nesse mesmo super mercado. Tem a pele cheia de marcas de acne, lembro-me que desde muito nova se maquilhava, tinha quilos de base e pó no rosto diariamente. Era gira e boa, tinha estilo. Não sei se acabou o secundário, mas desde que este super mercado abriu já há uns bons anos que a vejo lá na caixa. A pele estragada e os dentes todos estuporados, não é antipática com os clientes porque não pode mas também não sorri. Vejo estas mulheres e penso que talvez a popularidade na escola e os rapazes todos babados lhes tenham subido à cabeça e espalharam-se ao comprido. Penso nestas mulheres e inevitavelmente penso em mim, que sempre fui uma rapariga roliça, mas alegre. Nunca tive os rapazes em meu redor, mas sempre me dei bem com eles, sempre tive bons amigos, mas eu nunca fui a gaja boa, era a gaja porreiraça. Os anos foram passando e a vida seguiu o seu curso, fui envelhecendo e tive filhos, mas hoje estou bem melhor do que estas três miúdas, gosto mais do meu corpo agora do que quando era adolescente. Mas o que realmente me entristece nestas mulheres é que lhes vejo a infelicidade e a amargura no rosto. As mulheres infelizes são feias, quer se arranjem quer não, podem tentar esconder com roupas caras e maquilhagens magníficas. Podem até ter traços finos, rostos dignos de esculturas gregas ou de telas renascentistas mas a amargura e a tristeza são implacáveis, reconheço-as no rosto de qualquer mulher.

4 comentários:

Bípede Falante disse...

Chamam por aqui essas mulheres de mulheres sofridas, eu só não sei que tanto elas sofrem sem fazer nada para mudar suas vidas.

grassa disse...

lol.

No meu tempo de secundária, eu era o puto trinca-espinhas com cara de miúdo que não facturava porque não tinha a barba, o corpo e a testosterona exagerada dos "gajos bons" da altura. O maior deles era o Mesquita, um gajo alto, espadaúdo e que fazia questão de me usar, rebaixando-me, como forma de mostrar que era tão mais homem do que eu para elas.

A tipa mais boa da escola era a Patrícia. Uma gaja que, com 16 anos, já tinha um peito e uma curvas estúpidas para a altura e, consequentemente, era bué almejada e podia escolher quem quisesse. E ninguém lhe dizia que não. Afinal, como podiam, não é?

Vi o Mesquita há uns três anos atrás.
Pançudo, quase careca, gasto na cara. Casado, mas nem por isso muito feliz com isso.

Vi a Patrícia há uns anos, também. E tudo aquilo que era bojudo nela agora está flácido e feio: as mamas, a cara, o cu, até os braços.

E eu vejo isto e rio-me por dentro, pois o puto com ar de puto cresceu, e agora é um homem com ar de puto que já vai para os 31 e tem, em muitas coisas, o aspecto que eles tiveram e gostariam de continuar a ter...

Enfim... vidas...

jacklyn disse...

Querida Bípede, acho que muitas mulheres nem sequer colocam essa possibilidade, de mudar de vida. Conheço algumas que escolheram a vida que têm, e o preço que pagam é esse, a tristeza que trazem e que tentam esconder, mas da qual não se livram.

jacklyn disse...

Verdade grassa. Dá que pensar. Não só temos melhor aspecto agora, como conseguimos ser mais bem sucedidos profissionalmente do que os mais populares da escola. A parte afectiva é que não sabemos, mas tudo indica que também nos saímos melhor. Eu fico triste com isto, sabes? Triste por eles. Acho muito triste.