29.4.11

Semana # 1

8:00h - 66,7 Kgs

27.4.11

Fome

Como esta merda não ata nem desata e os quilos ainda cá estão agarrados ao rabo e às coxas tenho de tomar medidas drásticas. Ontem fui ao médico e fartei-me de rir. Balança... ai. Até doeu. Assim bem, bem eram dez a menos, mas ficavam a ver-se muito os ossos de maneiras que são só sete. Sete têm de ir abaixo. E não é a cena do ai que está aí o Verão e ai a linha e ai o caralhinho mais velho. Não é nada disso. Não entro na roupa que tenho e não vou comprar roupa nova que não tenho paciência nem gosto da puta  da saga do entra, escolhe, despe, veste, despe, veste, sai, e entra de novo. Não gosto. Pelo menos esta sequência associada a roupa não gosto. Já o entra e sai e o despe, etc. mas noutra linha de raciocínio, não me importo mesmo nada, muito pelo contrário. Adiante. Estava portanto a conversar com o senhor doutor e a queixar-me que é mais forte do que eu e que tenho imensa fome desde que deixei de fumar quando o homem olha para mim, muito sério e me diz, mas menina, a fome não engorda. Explodi a rir. Evidentemente. Mas prometeu-me que me ajuda a controlar a fome. É que se isto continua assim, vindo o calor a sério vou ter de andar nua, é que não me safo, ainda se estivesse mais magra, era naquela, agora nua e gorda, não me dá mesmo jeitinho nenhum.

26.4.11

Só faltas tu

No carro:

Grande: Sabes mãe, estou à procura de garina.
Eu: Como? (o gajo tem onze anos)
Grande: Sim, à procura de namorada.
Eu: Mas... namorada? Mas para quê?
Grande: Daaaahaaa! Para quê... Para fazer coisas de namorados, ora. O que é que os namorados fazem?

...

Pequeno: Sabes mãe, não percebo, na minha sala todas as raparigas gostam de mim.
Eu: Todas? Mesmo todas? (este tem sete)
Pequeno: Sim, todas, elas dizem que eu sou o mais bonito da sala.
Eu: E tu? Gostas de alguma?
Pequeno: Gosto da Mariana, e ela gosta de mim.

...

Grande: Vês mãe? Só faltas tu.
Pequeno: É, só faltas tu.

21.4.11

Não

Angústia. O peito apertado e o inevitável nó na garganta. E achavas que estavas a chegar ao fim? Tola.

20.4.11

Melga

Pensei que dizer claramente a alguém que não se vê qualquer propósito em continuar em contacto devido às diferenças de personalidade, postura e objectivos seria suficiente para efectivamente acabar com o contacto. Depois pensei que uma despedida por escrito fosse esclarecedor que não se pretende continuar a falar. Depois achei que um adeus, vai à tua vida, assim, a frio, chegasse mas também não. Nem deixar de responder foi suficiente, passados dois dias pergunta porque é que não respondo às mensagens e eu, pasmada, voltei ao início, não vejo qualquer propósito. Não, ainda não foi desta, acho que devias pensar melhor e dar outra oportunidade, mas já dei não vês? e não funciona, não percas tempo comigo, tenho pena que penses assim, não tenhas, adeus. Pois. Não, também não. Acabou de chegar, é hoje que vamos estar juntos? beijinho. Hein? Como? Este camelo, de verdade, ainda está convencido que me vai comer? Não posso. A sério. Não posso com gajos burros.

18.4.11

Primeira vez

O meu date de sábado à noite foi verdadeiramente inédito. O tipo melhorou bastante com a idade, conheci-o há vinte e quatro anos atrás, andávamos no ciclo, quero dizer, no quinto ano de escolaridade. Conversamos obviamente sobre aqueles anos de escola, dos colegas com quem se manteve contacto e dos que nunca mais vimos. Falamos também da vida, dos nossos percursos, das relações falhadas, sim , ele também, e dos filhos claro. E fui percebendo o real interesse dele em mim. Nada mais nada menos do que os meus contactos profissionais, trabalho numa empresa com ramificações a nível mundial, com escritórios nos quatro continentes e com infinitas possibilidades para ele, que está a desenvolver um produto e pretende colocá-lo no mercado. Ah pois é! Agora, ainda não decidi se o obrigo a prostituir-se em troca da minha influência. E esta ideia diverte-me tanto...

15.4.11

Homens simples

Os homens que admiro são sempre homens simples. Ao fim destes anos todos chego a esta conclusão sem me importar minimamente com o que esta constatação diz de mim. Consigo enumerar vários exemplos, um é o Berto Gordo de quem já falei, outro é o Eduardo, o marido da minha prima, um tipo que pouco estudou e que começou a trabalhar adolescente numa tecelagem no turno da noite. Durante o dia tinha outro emprego, entregava produtos químicos a várias empresas, andava a tarde toda na carrinha às voltas. Mais tarde, já casado, a tecelagem fechou e a mulher, secretária de direcção (licenciada, tenho de o dizer) num dos hipermercados daqui da terra, arranjou-lhe emprego no talho do tal hipermercado. No outro dia atendeu-me, e fiquei maravilhada com ele. Sempre foi simpático e meigo, mas atendeu-me com tal desenvoltura e confiança que me espantou. Fiquei por perto a vigiar como é que ele atendia as outras pessoas, sim que eu sou prima dele, e a mesma coisa. Um tipo que nunca antes tinha cortado carnes na vida aprendeu a fatiar bifes, a desossar perus e a golpear cabritos com um empenho e brio que me fizeram acreditar ainda mais nesta ideia  que tenho mas que às vezes se esconde nas teias do esquecimento, que um homem, quando quer aprende qualquer ofício e consegue ser bom naquilo que faz, seja lá o que isso for. E se esse homem tiver grandeza de espírito para se agarrar a cortar carnes (ou a cortar madeira, ou a varrer o chão) sem qualquer preconceito, e se for simpático e agradável, torna-se num profissional de primeira. Não me admiraria ver a fotografia dele ao lado do anúncio do funcionário do mês. Há anos atrás toda a gente estranhou a escolha da minha prima, uma rapariga licenciada casar-se com um simplório daqueles? Ela é que a sabe toda, além do físico que ele não é feio, longe disso, ela viu-lhe a meiguice, a simpatia e acima de tudo, viu-lhe o carácter. Fez ela muito bem.

12.4.11

Cristal

Não bebo vinho todos os dias mas quando me apetece uso os copos de cristal. Herdei-os da minha tia, são magníficos, com uns desenhos gravados, são copos antigos. A minha tia tinha um enxoval cheio de coisas boas, copos de cristal, serviços de chá e de café em porcelana chinesa verdadeira, daquela que tem um selo no fundo das chávenas, um desenho em relevo que só se vê quando se vira o fundo para a luz, toalhas e lençóis de renda e linho, mas a desgraçada nunca usou nada. Viveu sempre na expectativa de vir a ter a sua casa quando saísse da casa dos senhores em Lisboa. Juntou coisas a vida toda, comprou, comprou, comprou, e depois quando os senhores morreram já estava velha demais para ter casa e viver sozinha. Escolheu uma pequena parte de tudo o que tinha e foi para a Ordem de S. Francisco. Deu-me a escolher entre aquilo tudo o que lhe sobrou e eu escolhi os copos de cristal, três toalhas de linho e um serviço de café chinês, azul e branco. Mas decidi não guardar nada, uso tudo, não quero chegar a velha e tudo o que tenho ser novo. Decidi também nessa altura que ia usar os melhores lençóis na minha cama, para quê guardá-los? Quando me casei a minha mãe mostrou-me lençóis do seu enxoval que nunca tinha usado e lembro-te de ter pensado que era um grande disparate. Vivemos a vida guardando as coisas melhores dentro de armários e baús porquê? Na expectativa de um grande acontecimento que justifique sujar as toalhas de linho e os copos de cristal? Que tristeza chegar a velha e verificar que tal acontecimento nunca aconteceu, por isso decidi que a vida me acontece todos os dias.

11.4.11

O gordo

O Berto Gordo foi sempre gordo, desde pequeno, e nunca foi um rapaz bonito. Mas o Berto Gordo arranjou namorada e casou-se. Tem um filho adolescente que é sobre-dotado, frequenta uma escola de música desde muito pequenino, não tenho a certeza que instrumento o miúdo toca, e canta maravilhosamente. O filho do Berto Gordo não é gordo, e é um rapaz bonito. O Berto Gordo ainda é gordo, está igual, mal ajeitado e balofo. Mas o Berto é um homem respeitado por todos, é prestável e simpático, é homem de palavra, trabalhador e membro activo da comunidade. É escuteiro e faz parte da comissão de festas da freguesia. Canta no coro da igreja, ao lado do seu rapaz. Imagino-o carinhoso com a esposa, só porque vejo alegria nos olhos e nas maneiras daquela mulher. Imagino o Berto gordo a comer desalmadamente à mesa, um prato cheio a seguir ao outro, e no fim um elogio rasgado aos dotes culinários da esposa. Imagino o Berto gordo a deixar ocasionalmente a tampa da sanita levantada mas imagino-o também a barbear-se religiosamente e a tomar o seu duche antes de se deitar ao lado da mulher. Imagino a mulher do Berto gordo a virar-se para ele a sorrir-lhe por sentir o cheiro a fresco e a lavado. Imagino-os a fazer amor.

8.4.11

Carne

A carne que te alimenta o animal não passa de pó que à mínima brisa se espalha e desaparece no ar, o sangue que te ferve nas veias não passa de água que ao mais ténue raio de luz se evapora na pele. Deixa, dorme, respira, nada te fica, nada te marca, é impossível destruir o que está desfeito.

5.4.11

Chato

A cena chata é que apetecem uns braços para nos abraçar e só se imaginam aqueles braços. E apetecem uns lábios para nos beijar e só se visualizam aqueles lábios. É chato. Há montes de braços e há montes de lábios, mas são aqueles, aqueles que se querem. Sim, aqueles que não se tem. Os outros ali à mãozinha de semear e nós, nada. É chato.