29.9.14

Festas

Ontem tive em casa toda a tarde oito miúdos com idades compreendidas entre os onze e os doze anos. Todos jogadores da equipa de futebol na qual joga o meu mais novo, mas só três da turma dele. O meu moço pediu-me que a festa de aniversário dele fosse lá em casa e que queria fazer um torneio de "Playstation", com um daqueles jogos de futebol muito realistas que até dá para escolher a forma das sobrancelhas dos jogadores. Então, enquanto dois jogavam, os outros seis gritavam a plenos pulmões, ora força, ora vai, ora chuta, ora falta, ora golo, como se estivessem num estádio de futebol. O mais velho fechou-se no quarto, coitado. Cada parte durava cinco minutos, cada jogo dez. Foram sete jogos, é fazer as contas. Foi uma tarde deveras relaxante. Interrompi os jogos antes da final para que cantassem os parabéns ao rapaz e comessem o bolo. Entretanto, o primeiro pai que foi recolher o respetivo miúdo teve de subir lá a casa pois o rapaz estava a jogar a final.

O homem mal entrou fez uma careta e perguntou-me: Como é que consegue?

Encolhi os ombros e respondi: O que vale é que é só uma vez por ano!

28.9.14

O quê?

No programa "60 minutos" vejo que nos E.U.A. é facílimo entregar declarações de IRS falsas eletronicamente, basta arranjar uma identidade roubada - pelos vistos há listas de números fiscais roubados, conhecendo-se as pessoas certas compram-se identidades roubadas, por exemplo em clínicas, suborna-se a pessoa que tem acesso à base de dados dos doentes e obtêm-se, facilmente, cem nomes e números fiscais - e entregam-se as declarações. Os valores são inventados, as entidades empregadoras também e é só não abusar nos números que o Estado Norte-Americano envia um cheque para a morada indicada dentro de sete - SETE - dias!!! Há quem tenha feito milhares de declarações, cada uma com reembolsos de três ou quatro mil dólares e meteu ao bolso milhões. Um tipo diz que inclusivamente recebeu vinte e cinco - VINTE E CINCO - cheques na mesma morada. Nada estranho ?!? Ou então pode pedir-se que o reembolso seja creditado num cartão de crédito que se compra em lojas - EM LOJAS - e é só gastar, simples. Pensando nas nossas declarações eletrónicas, ocorrem-me alguns detalhes que provam que ainda que nos queixemos, aqui as coisas não são assim tão más. A entidade empregadora já declarou a retenção quando nós preenchemos, se tivermos crédito habitação, também já lá constam os valores, e eu quero acreditar que estes valores são cruzados quando as declarações são preenchidas manualmente. Por isso é que demora o tempo que demora o processamento dos reembolsos. Sei perfeitamente que ainda há gente que declara despesas que nunca teve, é um facto, mas pelo menos quem trabalha por conta de outrem tem sérias dificuldades em declarar valores diferentes daqueles que ganha. Cada um pode aldrabar a sua própria declaração, e nem vou dizer o que penso disso, no entanto não me parece que seja fácil inventar declarações para receber reembolsos. Não que eu tenha pena do Estado Norte-Americano, não tenho pena absolutamente nenhuma, tenho pena é das pessoas cuja identidade foi roubada e que depois se vêem à nora para provar que aquela declaração que já foi entregue e reembolsada não era a sua.
Os americanos pensam que são tão espertos, e depois são comidinhos de cebolada em merdas tão simples.
E mandam este gajos no mundo, e são agências de rating americanas que classificam países como Portugal como lixo. Eles são mas é uns grandessíssimos burros.

24.9.14

Classe

Gosto muito de ver mulheres que se arranjam, gostava de ser assim, de me arranjar todos os dias, mas não sou capaz. Não me maquilho todos os dias, pensando bem não toco em maquilhagem há muitos meses, há mais de um ano talvez. Admiro quem pensa na roupa que vai vestir e nos acessórios que combinam, quem muda de bolsa frequentemente, eu pego nas calças que são quase sempre neutras e pego na primeira t-shirt que apanhar, ou quando as calças não são neutras, agarro em partes de cima brancas ou beges. O que não dispenso são os saltos altos, adoro, sapatos e sandálias e raios me partam que ainda me faltam uns sapatos vermelhos, mas eles cá virão ter. Às vezes ponho uma saia travada preta, que vai obviamente com uma t-shirt, ou camisola no inverno, mas tenho de acordar com um determinado estado de espírito.

Agora, ver uma mulher toda arranjada, unhas pintadas, maquilhagem total, mas depois o cabelo está gorduroso e levanta os braços e pelas cavas da blusa espreitam os pelos das axilas?

Lá se foi a classe.

O tempo que que gasta a imaginar o "outfit", a passar a tralha toda de uma mala para a outra, e maquilhar-se não seriam muito mais bem empregues a lavar o cabelo e a depilar as axilas?

Eu acho.

23.9.14

Happiness


"Happiness is like an orgasm, if you think about it too much, it goes away."

Discurso de Tim Minchin na cerimónia de formatura da University of Western Austrália (UWA) 2013

Aqui.

22.9.14

O grande e o pequeno

Hoje o pequeno faz onze anos. Já não é muito pequeno. O outro, com onze anos já era o grande. Esta mania que tenho de os distinguir por pequeno e grande, em vez de mais novo e mais velho, por este andar vai ser até serem ambos homens feitos, e quiçá o pequeno até fique maior que o grande.

21.9.14

L'amour

A empresa onde trabalho divide-se em três unidades de produção diferentes. Na semana passada acompanhei um cliente francês a uma das outras unidades, ele queria ver a encomenda que tinha feito e que estava em fase de acondicionamento. Levei-o no meu carro, a distância é inferior a dois quilómetros. No caminho, olhou para mim e disse-me:
Vous avez changé, vous êtes différente, avez-vous trouvé l'amour? 
Ao que lhe respondi:
Mais non, d'ailleurs, je ne le cherche pas, il faudra qu'il me trouve.
Emagreci quase dez quilos desde a última vez que ele me viu, não percebeu o que tinha mudado mas partiu de princípio que havia mouro na costa. Os franceses têm uma visão do amor e dos relacionamentos bastante diferente da nossa (ou da minha). Este não foi o primeiro francês que me falou no facto de eu ter a idade que tenho, ser divorciada e não ter homem. Acham estranho. Acham que eu devia ter homem, um namorado no mínimo.

19.9.14

Vergonha

Existe uma arte, um dom, ou um desporto, que é magoar os outros propositadamente. Conheço várias pessoas que conseguem escolher as palavras certas e proferi-las no momento certo com o objetivo de fazer sofrer o interlocutor. Nunca consegui aprender a fazer isto, e envergonho-me de o admitir, houve momentos em que desejei fazê-lo. Sempre acreditei que estas pessoas se dividissem em dois grupos; as que o fazem retaliando um ataque de forma imediata e espontânea, e as que o fazem depois, por vingança, seguindo um plano meticulosamente preparado. Mas descobri que há ainda outras, as que pensam no que podem fazer às pessoas, porque as conhecem bem, porque lhes conhecem as fraquezas e preparam o ataque, apontam ao alvo indefeso, incrédulo e se regozijam com a dor alheia, pois só assim se sentem felizes, fazendo os outros infelizes. Habitualmente fazem-se passar por amigos. São os pratos da balança que só sobem quando os outros descem, já que sozinhos não valem nada, vivem dependentes do que acontece aos outros, ora felizes ora infelizes na proporção direta dos estragos que conseguem provocar. Os que magoam à defesa até consigo tolerar, já aos outros, e também me envergonho de o admitir, desprezo-os profundamente.

18.9.14

Sede da alma

"Tinha imaginado o amor como um êxtase de tal maneira arrebatador que todo o mundo se transformasse em Primavera. Tinha ansiado por uma felicidade extasiante. Mas isto não era felicidade, era uma sede da alma, um anseio doloroso, uma angustia amarga que não sabia existir. Tentou descobrir o momento em que começou. Não conseguiu. Só se lembrava que, de cada vez que entrava na casa de chá, depois das primeiras duas ou três vezes, sentia um aperto que lhe fazia doer o coração. E lembrou-se que quando ela falava com ele, ele ficava estranhamente sem respiração. Quando ela se ia embora era pura infelicidade, e quando a via novamente era puro desespero."

Somerset Maugham em "Servidão humana"

17.9.14

Baixo

Em Setembro, todos os anos temos um fim de semana de concertos no jardim do Centro Cultural Vila Flor. Chama-se Festival da Manta e quem quiser leva uma manta, ou um tapete, ou qualquer coisa para estender na relva e ficar a assistir ao concerto sossegadinho sentado no chão. Este ano levei os meus rapazes ao concerto dos Linda Martini. Nem eu nem eles conhecíamos mais do que alguns temas escutados no Youtube e concordamos que era material bom e achamos que valia a pena. Fiquei toda contente por eles quererem ir, caso contrário iriam jantar e dormir em casa do pai, coisa que não me agradava pois estava filada aos beijos de parabéns que me tocavam logo a partir da meia-noite. Fomos e adoramos, foi muito bom, logo a começar o vocalista diz que as mantas podem ser voadoras, não é obrigatório que fiquem no chão e toda a gente de imediato se levantou. O som de Linda Martini não cria propriamente um ambiente que nos deixe ficar sentadinhos calmamente no chão. A meio, o grande que já está mais alto do que eu, vira-se para mim e pergunta-me:
Mãe, sabes que instrumento está a tocar a rapariga?
Respondi: sei, está a tocar baixo.
Ele: está nada, está a tocar alto.

15.9.14

Fraquezas

Não consigo compreender como há pessoas que estão sempre enervadas, desde que acordam até que se deitam, que contrariam toda a gente, durante todo o dia; que ralham, que discutem, que apontam o dedo. Não sei onde vão buscar tanta energia. Quando me enervo ou me zango, a seguir, fico exausta, mas só a seguir, quando acalmo. Se calhar, essas pessoas não se cansam porque nunca se acalmam, ou então sou eu que sou fraca. O que me vale é que raramente me enervo e quase nunca me zango, senão a minha vida iria ser um martírio. Sou mesmo fraquinha.

12.9.14

Assombroso

Poucos filmes me tocaram e me marcaram profundamente.

Um deles é "O Amante" baseado no romance homónimo de Marguerite Duras, o outro é "O cozinheiro, o ladrão, a mulher dele e o amante dela", e o último, vi-o ontem na sessão do Cineclube, é "Only lovers left alive" e qualquer coisa mudou dentro de mim.

(Não escrevi o título em português - "Só os amantes sobrevivem" -  porque acho que se perde algo na tradução)

10.9.14

A P.D.I.

Os cabelos brancos cobrem-se com tinta há anos. As estrias, essas já sabemos que são para a vida. A banha, tem anos que aparece mais, tem outros que desaparece e, embora uns dias melhor do que outros, aguenta-se. As dores nos ossos são companheiras certinhas das vésperas de mudança de tempo, as dores de cabeça, - vá lá - só dão o ar da sua graça uma vez por mês. Os comprimidos para o sangue já têm lugar cativo na mesa de cabeceira e toma-los já é gesto automático antes de deitar. As ecografias mamárias já não escapam de seis em seis meses para contar os corpos estranhos, não vá aparecer mais algum que desestabilize o convívio pacífico dos outros que já lá estão. As rugas já chegaram e parece que gostam dos aposentos, não me parece que tenham vontade de desandar. São os trinta e nove anos, que ninguém se iluda. A novidade é a visão, corrijo, a falta de visão da qual dei conta no último ano letivo, as letras dos livros e das fotocópias todas desfocadas e as letras do quadro ou da projeção a juntarem-se todas e a tornarem-se numa mancha só. Entretanto, fui buscar os óculos ontem ainda estou espantada por perceber quão mal eu via. Portanto, daqui para a frente, certamente, as maleitas são para piorar. Tirando as que ainda vão aparecer. Ah, e esqueci-me de dizer que desconheço o paradeiro da minha líbido e nada indica que pretenda regressar.