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21.8.10
Bouillabaisse
Em 2004 tive de ir a St Tropez trabalhar. É verdade, trabalhar, estranho não é? Mas o cliente em questão, depois de ter apresentado a colecção aos representantes europeus cá em Portugal e cá na terrinha, foi de férias para St. Tropez de mandou-nos lá ir ter com ele passado mais ou menos um mês para nos passar as encomendas. tratava-se de uma marca americana, e como as encomendas para a Europa já tínhamos, um mês depois teríamos as encomendas para os Estados Unidos. Preparámos os modelos todos e lá fomos, eu e a minha colega, de malas e sacos aviados para St. Tropez. Julho, calor filha da puta e o bikini devidamente guardado dentro da mala, obviamente. Se despacharmos o trabalho rapidamente ainda damos uns mergulhitos, pensamos nós. Pois muito bem, trabalhamos como umas burras, aturamos malucos de meia-noite mas tivemos uma tarde de domingo livre. Um dos comerciais de uma das fábricas que tinham trabalhado na colecção e que tinha as consequentes encomendas, foi lá ter connosco porque queria a informação que lhe tocava logo que possível e regressaria mais cedo do que nós. Almoçámos nesse dia no hotel onde estávamos todos hospedados. Todos porque além de mim e da minha colega, estava o nosso patrão, o nosso agente nos Estados Unidos, o tal comercial, o representante francês, a mulher, os filhos e a bábá, o dono da marca, a mulher os filhos e a bábá, e mais dois ou três capangas do dono da marca que além de lhe chegarem os cigarros, de lhe carregarem os sacos e de lhe tratarem das mais variadas merdas, também lhe organizavam as saídas e garantiam entrada em qualquer discoteca e/ou restaurante em St. Tropez. Um verdadeiro circo. Dizia eu, almoçamos nesse dia no hotel, no terraço ao lado da piscina e a estrela (o dono da marca) lembrou-se de mandar fazer uma Boullabaisse para o jantar (prato típico do sul de França, creio que é mesmo típico de Marselha, mas não tenho a certeza, é parecido com uma caldeirada de peixe) e perguntou aos convivas quem alinhava. Encomendou-se a Bouillabaisse então para o jantar. Tarde de sorna na piscina, tudo a jibóiar ao sol, nós as duas entretidas na conversa com o nosso colega português e com a mulher da estrela, muito simpática por sinal. A meio da tarde entram uns 4 ou 5 gajos munidos de guitarras e desatam a cantar espanholadas tipo Gipsy Kings lá ao pé do povo. Fartaram-se de cantar, já ninguém os podia ouvir, um desespero para todos os presentes menos para a estrela, é fã do género, ficamos a saber. No fim, a estrela aplaude entusiasticamente, faz sinal ao outros todos para aplaudirem também e grita: Très bien, on prend les gitans pour le dinner!!! Nós as duas deitamos as mãosinhas à cabeça, o nosso colega revira os olhos e diz: Creeeeeedo! Pensei que íamos comer peixe...
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fun,
vivo para trabalhar ou trabalho para viver?
19.6.10
Fuga
Apetece-me fugir. Tive aqui há tempos um projecto que me sugou até ao tutano. Foi um cliente enorme que nos veio cair no colo (isto soa um nadinha mal, mas...) e foi o cabo dos trabalhos. Uma cadeia de lojas gigantesca compra cerca de 100.000.000 (sim, cem milhões) de peças por ano incluindo vesturário, calçado, acessórios e produtos de cosmética. O objectivo da empresa onde trabalho era na altura conseguir entre 5 a 10% da produção de vestuário deste cliente. Bem bom. Trabalhamos como mulas, eu e mais 3 colegas neste projecto e fizemos uma primeira estação muito boa, foi até uma estação do caralho, suámos as estopinhas mas as putas das encomendas confirmaram-se e entregaram-se. Não fosse o caso de tudo o que se produziu ter sido na Ásia, que tem diferenças horárias que nos fizeram trabalhar muitas noitinhas, e não fossem as compradoras do cliente tão burrinhas que nos obrigaram a trabalhar como se estivessemos a lidar com deficientes mentais, acho que até teria sido mais fácil pois pelo menos não teriam a puta da mania que são finos o que já é mais de meio caminho andado, e a coisa teria sido um sucesso total. Assim só foi sucesso para o boss, que se fartou de ganhar dinheiro e as mouras a dar o corpinho ao manifesto e a cabeça à porrada. Depois veio a crise mundial, o colapso dos mercados financeiros, a queda a pique do dólar estavamos nós já a meio da segunda estação. Foi o fim da macacada, obviamente. Lá foram à vidinha deles, receberam as mercadorias e nunca mais ninguém os viu, não sem antes terem tentado anular encomendas por causa da crise mundial. A puta da crise mundial foi desculpa para alguns procedimentos nada éticos da parte deles, mas conseguimos travar a maioria. E apetece-me fugir porquê? Porque este queridíssimo cliente voltou. O dólar arrebita cachimbo e lá vêm eles outra vez. Estão à rasca, além disso. Precisam de um determinado tipo de mercadoria que não conseguem nem fazer bem, nem rápidamente, e de quem se lembram eles? Pois. Dos portugueses, que até têm escritórios de sourcing na Ásia e têm gajas portuguesas a supervisionar e a servir de único contacto o que dá um bocadinho de jeito, convenhamos. De maneiras que, dada a sofreguidão com que eles querem trabalhar connosco, não me admira nada que o boss, apesar de já ter avisado toda a gente que o ritmo desta vez terá de ser completamente diferente, e que as maratonas de trabalho pela noite dentro estão fora de questão, quando começar a ver os números nas encomendas embarque outra vez na paranóia. Só tenho de dizer uma coisinha, este projecto valeu-me a mim e à minha colega uma viagem à Tailândia, com direito a uma semana de trabalho exaustivo nos nossos escritórios de Bangkok, a sede do sourcing na Ásia, e o fim-de-semana em casa da sócia do boss em Puhket, pronto, um sonho. Só me apetece fugir, se a coisa começar a ficar insuportável, vou ver as fotos daquele fim de semana. Fica já aqui uma, só para me acalmar um bocadinho.
Ok, outra que ainda estou um bocado alterada.
E a última, só para ficar bem disposta
Ah, estou muito melhor!
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vivo para trabalhar ou trabalho para viver?
29.4.10
Exclusividade
Acabo de receber um telefonema muito simpático de uma menina que amavelmente me informou que tenho de preencher uns filhas da puta duns mapas excel, com informação que deverá ser actualizada todas as semanas, que é extremamente importante, que ela tem de apresentar à direcção, bla bla bla... E a procissão ainda vai no adro, que é como quem diz, a colecção nem foi entregue sequer. É muito giro falar mas além de policiar os fornecedores, traduzir tudo e mais alguma coisa que estes camelos não entenderam ainda que para exportarem mercadorias convinha que pelo menos um dos funcionários dominasse a língua inglesa, massacrar-lhes a cabecinha diariamente a reclamar amostras e informações variadas, responder às centenas de e-mails cheios de paneleirices recebidos das moçoilas francesas de diferentes equipas, alterar mapas que há cores anuladas ou adicionadas e quantidades revistas tipo cada dois dias, adicionar instruções que chegam todos os dias a conta-gotas, ainda vou ter agora, de pegar noutros mapas já preenchidos e enviados anteriormente, actualiza-los todas as semanas e envia-los à menina simpática que me telefonou. É giro, é sim senhor. E é simples, quando chegarem as encomendas e eu tiver de acompanhar as produções, esta merda de certeza que vai piorar consideravelmente, e nessa altura, todos os outros clientes paneleiros que ainda tenho terão de ir à vidinha deles e ir parar às mãos de outra gaja qualquer. Eu trato desta merda toda, trato, na boa, mas se é para ser assim, se é para exigir este nível de comprimisso, terá de ser em regime de exclusividade. Caso contrário, ou trato disto a cagar e depois dá merda, ou então deixo de ter vida extra-trabalho, trago para cá um saco-cama, escova de dentes e hiberno cá no escritório, o que é completamente contra-natura, está a chegar o Verão caralho, tempo de esplanadas, praia e protector solar, hibernar é no Inverno foda-se!
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25.2.10
Razão directa
And off we go again!!! Fiz serão hoje. Saí do escritório já perto das 23:30h. Pronto, vai começar outra vez, quer dizer, já começou. A verdade é que é assim que eu gosto. Detesto ter trabalho para ir fazendo, prefiro ter muito trabalho todo para ontem porque assim estou concentrada, alerta e estimulada. Quanto menos faço, menos me apetece fazer. Assim, dá gosto! Desde que regressei já tenho dois novos projectos, ou seja dois novos clientes, duas novas marcas. Trabalho na industria têxtil. Durante os primeiros 10 anos de actividade passei por várias empresas, todas do mesmo género, e passei também por quase todos os departamentos, não propositadamente, mas quiseram as circunstâncias que assim fosse. Conheço o "metier" de trás para a frente. Depois, há oitos anos, passei-me para o outro lado da barricada, o que para as empresas com quem trabalho é um bocadinho chato, porque sei todos os truques, eu também os fazia. Sei todas as manhas, conheço todas as mentiras. Enfim, dizia eu que tenho dois novos clientes. Um deles é uma grande estrutura, com centenas de lojas e uma marca desportiva/casual, que tenta desmarcar-se do conceito muito específico que durante anos manteve, desportos ao ar livre: Ski, golfe, caça, pesça, equitação, vela, e por aí fora. Fazem desde casacos impermeáveis às galochas para ir á pesca, passando pelos fatos de ski e pelos polos para o golfe. Estão a desenvolver produtos connosco que não conseguem desenvolver na Ásia, não tanto devido aos materias nobres que fazem questão em utilizar, mas mais pelas quantidades que para as fábricas com milhares de trabalhadores da China e do Bangladesh, são grãozinhos de milho num silo de toneladas. Eu estou a gostar, não muito dos modelos, não são nada de especial, mas porque estou a ter a oportunidade de aprender tudo o que há a aprender sobre algodão orgânico, polyester reciclável, linho, tratamentos que protegem dos raios ultra-violeta, tratamentos anti-bacterianos, características sobre fibras técnicas que fazem coisas que ninguém sonha com a transpiração, tudo isto traduzido em peças de roupa. Interessantíssimo para quem "fazia" t-shirts em 100% algodão. Ok, também sei tudo o que há para saber sobre uma t-shirt em algodão, sobre técnicas de tingimento e de estamparia, sobre tratamentos de cloro ou de lazer, sobre encolhimentos e torções, sobre resistência de cores à luz, à água ou à fricção. Mas agora tudo é novo, e se há alguma coisa boa neste trabalho de ver nascer as peças de roupa de um desenho num papel, é que há sempre algo novo a aprender, os modelos mudam sempre, todas as estações, isso toda a gente sabe, mas aqui é diferente, tudo é novo. E como eu gosto de aprender, estou a gostar imenso. Não vou gostar é de ter de lidar com toda a burocracia inerente a uma grande empresa, os vários departamentos com várias pessoas diferentes cujos nomes vou ter de decorar e associar a cada assunto, a cadeia de decisões demasiado lenta precisamente porque há imensas pessoas envolvidas em cada merdice, e a tacanhez de alguns dos departamentos cuja capacidade de adaptação já notei ser reduzidíssima.
O outro cliente é completamente diferente, um conceito que me é muito familiar, coisas dentro do que descrevi acima e que domino com uma perna às costas. Mas este cromo é um gajo que conheço há anos, que já trabalhou numa das marcas que ajudei a lançar, daquelas que quando chegam a ser comercializadas em Portugal uns anos depois, já eu estou cheia delas até aos olhos que nem consigo usar os modelos sequer, e este cromo é um perigo ambulante. Apesar de eu saber perfeitamente o que ele quer, tenho de ter muito cuidado com ele, porque este melro é dos que sacode a água do capote. Não lhe convindo é gajo para dizer que fui eu que não percebi nada e que ele não disse nada disso, sim porque este é dos que telefona, deve ser alérgico à caneta ou ao teclado. Comeu-me de cebolada uma vez, a primeira. Depois deu-me foi trabalho, o trabalho de ter de escrever tudo o que ele dizia ao telefone logo a seguir, mas que remédio tenho eu, o gajo é teimoso e não muda. Mas também não me come de cebolada. Espero é que a marca dele venda, é que aturar doidos aturo, na boa, mas que os números o justifiquem, porque está frio sim senhor, mas não trabalho para aquecer.
O outro cliente é completamente diferente, um conceito que me é muito familiar, coisas dentro do que descrevi acima e que domino com uma perna às costas. Mas este cromo é um gajo que conheço há anos, que já trabalhou numa das marcas que ajudei a lançar, daquelas que quando chegam a ser comercializadas em Portugal uns anos depois, já eu estou cheia delas até aos olhos que nem consigo usar os modelos sequer, e este cromo é um perigo ambulante. Apesar de eu saber perfeitamente o que ele quer, tenho de ter muito cuidado com ele, porque este melro é dos que sacode a água do capote. Não lhe convindo é gajo para dizer que fui eu que não percebi nada e que ele não disse nada disso, sim porque este é dos que telefona, deve ser alérgico à caneta ou ao teclado. Comeu-me de cebolada uma vez, a primeira. Depois deu-me foi trabalho, o trabalho de ter de escrever tudo o que ele dizia ao telefone logo a seguir, mas que remédio tenho eu, o gajo é teimoso e não muda. Mas também não me come de cebolada. Espero é que a marca dele venda, é que aturar doidos aturo, na boa, mas que os números o justifiquem, porque está frio sim senhor, mas não trabalho para aquecer.
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