31.10.10

Prioridades

A noite de ontem deve ter-me custado uns 150€, mais coisa menos coisa. Gasolina, portagens, jantar e copos, tudo junto a coisa não andou longe, mas, de longe, antes euros gastos em bons jantares e bons copos com amigos do que em roupas e sapatos e malas e essas coisas todas que se compram em lojas. Gostos...

27.10.10

Tradições

Outra das coisas que à primeira vista ninguém imagina é que eu, todos os anos por esta altura, faço marmelada. Daquela que se mete em tigelas de barro e se deixa a secar à janela, ao Sol. Daquela que liberta um cheirinho maravilhoso que inunda a casa toda enquanto ferve ao lume. Daquela que invariavelmente me garante os meus filhos à minha volta na cozinha enquanto mexo a panela com a colher de pau, enquanto encho as tigelas para depois, contentíssimos raparem e lamberem a panela e a colher de pau. Daquela que é feita com marmelos e açúcar e muito, muito amor. Adoro.

26.10.10

Pensamento do dia

"É dificil comerem-me de cebolada, muito difícil. Mais depressa me comem com chantilly do que de cebolada."

(Este foi o "meu" pensamento do dia, eu é que pensei esta merda, fui eu. Isto está lindo, sim senhor)

25.10.10

Quem não está...

Outra maravilhosa característica desta minha cativante personalidade é que, apesar de haver pessoas com as quais gostaria imenso de conviver mais, não convivendo penso sempre: quem está, está, quem não está, estivesse. E amigos na mesma, nem chateada fico. A sério, é uma categoria.

24.10.10

Missa das 11

Hoje na missa das 11, sim levo os meus filhos à missa, sim o pai, apesar de não ter tido uma educação católica como eu tive, também os leva à missa quando estão com ele e sim andam os dois na catequese. Não lhes faz mal absolutamente nenhum e terão muito tempo para questionar, abandonar, renegar, e escolher outra coisa qualquer ou não escolher nada. Por agora fica assim porque além de, repito, não lhes fazer mal nenhum, poupamos um grandessíssimo desgosto à avó e também somos coerentes porque se os meninos fazem a primeira comunhão com  direito a festa de família como manda a sapatilha, há que ser minimamente coerente e dar algum seguimento à coisa. Bom, hoje na missa das 11, eu toda fodida porque estive numa festa fantástica até às 5 da matina e obviamente que estava cheinha de sono e com o corpo todo moidinho, o maior a curtir aquilo à brava, sim o grande curte a missa, e o pequeno a achar a seca de sempre. Já perto do fim, ao ver o padre a guardar as coisas todas dentro do sacrário, o pequeno aproxima-se de mim e com as duas mãos em concha à volta da boca que encostou ao meu ouvido diz-me assim:

- Mãe, ali dentro, onde ele está a guardar o pão, é quentinho não é?
- Não filho, claro que não.
- Mas então aquilo não é um forno?

Não sei como me segurei.

21.10.10

Rosita

Quando casou, toda a gente disse que a Rosita tinha tido muita sorte. O marido era uma estampa. E por acaso era, lembro-me perfeitamente de ser miúda e de achar o indivíduo um homem muito bonito. A Rosita também era bonita, faziam um casal lindo de se ver. Hoje, a Rosita está mais velha obviamente e o rosto transformou-se num rosto sofrido e gasto. O marido continua muito bem parecido, é normal. O tipo não trabalha, passa o dia na rua ou no café a coçá-los, enquanto a Rosita trabalha que nem uma moura para o manter e aos dois filhos quase adultos. Trabalha Rosita, que a estampa do teu marido gasta.

19.10.10

Os meus lençóis.

Tenho saudades da minha cama. Mais do que qualquer coisa lá de casa, falta-me a minha cama, faltam-me os meus lençóis. Os meus lençóis são parte de mim. Na suavidade dos meus lençóis amei, na solidão dos meus lençóis chorei e na imensidão dos meus lençóis desejei. Desejei tudo o que uma mulher pode desejar, um corpo de um homem junto ao seu ou uma existência mais feliz. Forcei o descanso e escorracei memórias, reneguei o mundo todo e reconciliei-me comigo, tantas vezes. Os lençóis para onde entraram os meu filhos tantas vezes de noite, ignorando o amor feito pouco tempo antes. Quando na minha cama se deixou de fazer amor passou a fazer-me impressão que os meus filhos lá entrassem naqueles lençóis, sujos, já não havia amor. Sossegados, como anjos dormindo entre o pai e a mãe, eu olhava-os e pensava, nesta cama já não se faz amor. O pai talvez ame a mãe mas a mãe não ama o pai, aqui já não se faz amor. Os meus filhos dormiram muitas vezes numa cama cheia de pai e de mãe, mas completamente vazia de amor.

Saturday night

Aconteceu-me uma coisa estranhíssima no Sábado passado, não este que acabou de passar, no Sábado passado mesmo, o da semana passada. Entendido? Bom, adiante. No Sábado passado jantei em casa do meu compadre que cozinha muito bem. Comemos e bebemos muito bem. Depois de jantar apareceu o meu irmão, um primo nosso e um amigo deles. Bota música e vai daí, o meu compadre teve a excelente ideia de preparar umas bebidas. Muito bem, vai daí, emborquei duas vodkas Absolut com Sumol de laranja, que foi o sumo que se arranjou no café lá de baixo. Bebida altamente improvável, mas que escorregou que foi uma maravilha. Resultado: fomos depois à festa de reabertura da discoteca cá do sítio, onde me deparei com um tipo que nunca antes tinha visto, boa pinta por sinal, e que me olhava com aquele olhar que já aqui descrevi, o olhar que me faz voar, o olhar desafiador. Arrependi-me imediatamente da vodka já consumida, mas não havia volta a dar-lhe, e este, com este olhar e esta pintarola, não vai a lado nenhum, fica já aqui, pensei. E ficou. Conversamos, dançamos e no fim trocamos de nº de telefone. Só um pequeno problema, no dia seguinte não conseguia lembrar-me do rosto dele. Lembrava-me da conversa, lembrava-me de o ter achado um giraço, lembrava-me do olhar que me fez levantar voo e lembrava-me que ele cheirava bem. Do rosto, nada - lá está, vodka a mais - não me lembrava do rosto, uma chatice. Como expliquei no início, tudo isto aconteceu no Sábado passado, o da semana passada, porque este Sábado, este que acabou de passar, o tipo telefonou-me e eu, claro, eu quis ir confirmar se o que me lembrava batia certo. Bate tudo certo, simpático, giro, cheiroso, e desafiador. Isto promete. Ui, se promete!

18.10.10

Friday night

O fim de semana começou com um concerto muito intimista deste senhor que apesar de madurinho continua um charme, uma doçura que só visto. Foram duas horas a ouvi-lo tocar que souberam a uma tarde passada num sofá, à lareira com um copo de vinho e um albúm de fotografias antigas. Muito bom. Mesmo.

(Lloyd Cole - 15/10/2010)

15.10.10

Farinha

Há mulheres que são parolas e serão parolas toda a vida. Podem arranjar o cabelo, podem vestir as melhores roupas e calçar os melhores sapatos que serão sempre parolas. Mas essas, não têm culpa, não podem mudar o código genético que lhes saiu na rifa. Podem por outro lado cultivar a simpatia, a gentileza, podem desenvolver características que as tornem atraentes, mas só se o tal código genético também lá tiver o bom material. É preciso boa farinha para fazer bom pão. Há outras mulheres que podem até parecer boazinhas, que são simpáticas e humildes e depois, atingindo o objectivo a que se propuseram na maior parte das vezes recorrendo a meios menos correctos se transformam numas cabras impossíveis, arrogantes e cheias de manias, até tentam melhorar o aspecto e umas conseguem outras não, mas a massa, a farinha é ruim, e por mais que se amasse, nunca dará bom pão.

14.10.10

Exigências

Eu tenho uma maneira de ser um bocado fodida. É que não faço a coisa por menos. Levo sempre as coisas ao ponto das outras pessoas serem quase que obrigadas a mostrar o material de que são feitas. Não consigo fazer de outra maneira, ponho sempre as coisas num patamar em que ou se tem tomates ou não se tem, nunca facilito. Tenho sempre de ver até onde é que se vai, até que ponto se é verdadeiro, até que ponto se assume o que se é. Podia ser menos exigente, pois podia? Podia facilitar as merdas, pois podia? No imediato até lucrava mais, mas a longo prazo seria corrosivo, conheço-me. Pois é, eu podia ser uma mulher mais "fácil", podia, mas depois não era a mesma coisa.

12.10.10

Carga

Deixei o homem que me interessava ter por perto, deixei o tabaco, deixei a minha casa, é preciso estar de olho nas obras lá de casa, no emprego atravesso uma fase complicada, as aulas dão-me trabalho e consomem-me tempo que encontro com muito esforço. Isto tudo junto parece-me mais do que o que consigo aguentar, mas enquanto os meus rapazes estiverem bem, o resto todo que se foda, hei-de sobreviver.

Cinco semanas

Já não custa tanto, é verdade. Já não me lembro de todos os cigarros que fumava, lembro-me só de alguns. Ainda me apetece fumar, mas não da mesma forma violenta e dolorosa. Ainda me apetece fumar, mas bem sei que não posso, não fumo.

8.10.10

Engano

Pensei que as minhas aulas iriam ser um tédio, mas não. Ontem um professor claramente de esquerda e hoje uma professora claramente de direita, começa bem.Uma turma que prova que é muito mais difícil controlar adultos apalhaçados e com a mania que são espertos e engraçados do que putos insurrectos. É triste ver homens feitos armados em adolescentes parvos a mandar bocas aos profs e raparigas que já têm idade para ter juízo a rirem das piadolas deles como se fossem adolescentes aparvalhadas. A cota bem mais cota do que eu a fazer olhinhos ao prof, o tipo que tem a mania que tem personalidade e convicções fortes quando na verdade apenas usa clichés para argumentar tudo e mais alguma coisa. Os caladinhos que nunca abrem a boca e os fala-baratos. Uma tourada, portanto. O tema para debate: O governo francês expulsa os ciganos romenos. Ninguém achou piada nenhuma. Este tema é muito difícil diziam eles. Fui a única a concordar quando ontem o prof atirou o tema para o debate da próxima semana. Agora é pesquisar. Eu adorei, é um assunto tão rico, tão abrangente, levanta tantas questões de variadíssimas ordens, estou entusiasma. Mas sou mesmo só eu. E os profs.

5.10.10

E quase que me esquecia

De dizer que fui ao concerto dos U2 no domingo à noite e... tchan tchan tchan tchan... não fumei! Nem cigarros nem nada! Ah pois é! Em contra partida fartei-me de chorar. Em suma, adorei!

P.S. Devo esclarecer que as três pessoas que me acompanharam ao concerto choraram também, por isso posso concluir que a emoção não se deveu à minha especial dificuldade em conter as lágrimas neste momento. O concerto é que foi mesmo de cortar a respiração e de ir às lágrimas.

P.S. 2 - Das três pessoas, uma era uma gaja, e as outras duas eram gajos.

P.S. 3 - O meu irmão também lá estava e depois confessou-me que também chorou quando ouviu o Bono a cantar em italiano na Miss Sarajevo.

P.S: 4 - Acho que está tudo esclarecido, certo?

National Geographic

Assinei a revista durante sensivelmente 3 anos, devo ter cerca de 150 exemplares. Ao fim desses 3 anos fraquejei e cedi, anulei a assinatura que na altura nem era dinheiro por aí além. Todos os meses, quando chegava a revista pelo correio era um chorrilho de comentários negativos, que aquilo era dinheiro deitado fora, que eu nem lia aquilo, que só ocupava espaço, etc... É verdade que eu não li todos os exemplares de ponta a ponta, mas li a maior parte, e da outra parte li alguns artigos. Guardei-os e ali estão, protegidos do pó e arrumadinhos para não se estragarem durante as obras. Guarda-los-ei enquanto me apetecer. Acalento secretamente a esperança que venham a ser úteis aos rapazes nalgum trabalho de escola. E se não forem, quero que se lixe, são meus e quanto mais não seja, quando chegar à reforma terei ali centenas ou milhares de páginas de informação totalmente desactualizada mas cujas fotos continuarão magníficas para me entreter. Dava-me prazer ler a National Geographic, como hoje me dá prazer ver os documentários na televisão. Pergunto-me hoje qual teria sido a reacção se em vez da National Geographic me desse para gastar os 600 paus mensais em revistas de roupas e sapatos e malas e perfumes e maquilhagem e essas cenas... Na volta o maridinho teria achado mais piada, sei lá.

4.10.10

Introdução

Depois da poeira assentar vê-se muito melhor. E eu, não sou diferente dos outros e é à distância que vejo melhor. Depois de ter atravessado o período de adaptação a este novo estado, depois de ter concluído e aceite tudo o que concluí e aceitei, chegou a data estipulada para o corte com o tabaco. E foi o fim da macacada, não sei que raio de mutação genética se deu em mim que me tornei numa grandessíssima chorona. Era a minha mãe a falar-me num tom um nadinha mais... assim... coiso que eu pimba, logo as lágrimas nos olhos, eram os miúdos a portarem-se um bocadinho pior e eu a ter de impôr a ordem e eu pimba, logo as lágrimas nos olhos, e era vir-me à ideia qualquer coisa que metesse um determinado indivíduo que pimba, logo as lágrimas nos olhos. Isto do choro começou há sensivelmente 4 semanas, faz amanhã. O que nunca antes me incomodou passou a fazer-me chorar como uma Maria Madalena. Se pensarmos que nunca fui de chorar, de tal forma que atravessei todo o processo de separação e divórcio e o único gajo que me fez chorar foi o meu pai, e foi uma única vez quando batemos de frente e eu lhe garanti que ele nunca mais iria ver os netos porque ele achou que proibindo-me de lá entrar em casa (na dele, que eu também considero minha) me faria mudar de ideias quanto ao divórcio, é ainda mais absurdo. Mas o que é certo é que de há 4 semanas para cá acho que já chorei mais do que em 35 anos de vida. Acho não, tenho mesmo a certeza. O giro disto tudo é que as outras merdas todas já me passaram, já aguento bem a minha mãe e os miúdos. Agora, as cenas relativas ao indivíduo, não sei porquê, mas tenho a sensação que isto está apenas a começar.

1.10.10

Tudo

Tenho dias em que travo batalhas e tenho dias em que me estico em camas feitas de lavado. Tenho momentos do mais cerrado nevoeiro e tenho momentos de preguiça estendida na relva, ao sol. Há tempos de guerra e tempos de paz, há tempos de gargalhadas e tempos de lágrimas. Há tornados e há orvalho. Há espuma salgada de ondas e há terra, palha e pó. Há cheiro a fruta fresca e flores e há cheiro a sangue, ferro e fogo. Há isto tudo dentro de mim, mas pouca gente sabe, disfarço muito bem.