28.6.10

As pessoas são engraçadas

Esta é mais uma das coisas que não percebo. A minha mulher a dias, que desde a separação divido com o meu ex-marido, vem frequentemente falar-me de coisas, de merdas, de situações que se passam em casa dele. A maior parte das vezes nem a ouço e as que ouço esqueço quase de imediato. Já lhe expliquei que não me interessa rigorosamente nada do que lá se passa e que não quero que ela me fale disso. Contudo a senhora, apesar de ser uma excelente pessoa e uma boa profissional não prima pela inteligência nem pela esperteza e a cada passo lá vem com as conversas às quais só obtem da minha parte uns pois, uns deixe lá isso, uns não quero saber e outras coisas deste género. Parto obviamente do princípio que o mais certo é que faça o mesmo no sentido inverso, coisa que não chateia absolutamente nada, e dou-lhe o devido desconto. Há contudo outras pessoas que me espantam com as coisas que me dizem. Encontrei numa loja um casal que foi meu vizinho, quando nos primeiros anos de casada vivi onde vive agora o meu ex-marido. Não os via há anos, desde que nos mudámos para outra casa, e depois dos cumprimentos da praxe, a senhora lá vem com a conversa do pois, quem lá vive outra vez é o seu ex-marido, e eu sim, regressou, e ela é verdade, mas deixe lá, há coisas piores do que um divórcio, e eu exactamente, são coisas que acontecem, e ela mas olhe, ele também não acerta com nenhuma, já por lá têm andado várias e não acerta com nenhuma. Apeteceu-me insultá-la mas contive-me num simples, isso não sei nem me interessa. Despedi-me e virei-lhe costas. O que é isto? Qual é a necessidade desta senhora de me dizer este tipo de coisas? Não lhe perguntei rigorosamente nada, no entanto automaticamente fez comentários relativos à vida amorosa do meu ex-marido. Tem a certeza que é um assunto que me interessa, e deve ter ficado desiludida por eu não ter querido saber mais detalhes. A verdade é que eu sei perfeitamente que ele já tem namorada completamente assumida perante os filhos e perante os pais e que a namorada até já tem ficado a passar fins-de-semana em casa dele com os miúdos mas não abri a puta da boca. Primeiro ao fazê-lo seria exactamente igual a esta senhora ao permitir-se fazer comentários sobre um assunto que não lhe diz respeito, segundo porque correria sérios riscos de ser mal interpretada, estou mesmo a imaginar a senhora a ficar convencida que eu estou chateadíssima com o facto do meu ex-marido ter arranjado namorada. Estou-me completamente nas tintas para isso, quer dizer, não estou nada, a verdade é que acho muito bem que ele tenha assumido a namorada e estou satisfeitíssima porque os miúdos gostam imenso dela. O que eles me contam, com a maior naturalidade do mundo e sem eu lhes perguntar nada, a respeito da namorada do pai é muito positivo, que mais poderia eu querer? Nada. Por mim, está óptimo.

15 comentários:

grassa disse...

Não te interessa que ele ande a comer outras?

Liar, liar.

Claro que te interessa. Quanto mais não seja pelo simples facto de lhe desejares que ele não coma mais ninguém. Ou pelo facto de ele te ter sido de uma intimidade extrema.

Toda a gente fica roída quando descobre que a pessoa X com quem namorou ou fez vida marital anda agora a comer a pessoa Y.
Isto, claro, se as coisas tiverem ficado mal resolvidas.

jacklyn disse...

Grassa, meu amor.
As coisas ficaram muito bem resolvidas dentro de mim, mas tão bem que o que desejo é que seja feliz para o resto da vida. Quero lá saber quem ele come ou deixa de comer, acredites ou não. A única coisa que me preocupa é se os meus filhos gostam da namorada do pai (nota que não escrevi gaja, faz muita diferença) porque têm de conviver com ela. Os putos estão contentes, acham-na fixe e divertida - palavras deles - e é tudo o que me interessa. Mai nada.

grassa disse...

Still, custa-me a acreditar.

Eu cá continuo a desejar a infelicidade de esta e aquela ex-namorada.
Tudo porque, na minha concepção idílica de equilíbrio universal, eu sofri muito mais do que elas com aquela relação e pelo seu consequente fim.

jacklyn disse...

Tu és vingativo... lol.
Mas eu não sou, mesmo tendo sofrido (e não foi pouco) não lhe quero mal, o que interessa é que já acabou. Além disso é o pai dos meus filhos e interessa-me que esteja bem, para que os filhos estejam bem também.

grassa disse...

É a minha forma de sentir descargo de consciência.

jacklyn disse...

Hum... isso é estranho grassa.

grassa disse...

É?

Porquoi?

jacklyn disse...

Parce que, se sentes descargo de consciência com o mal que lhes desejas, significa que no fundo te culpas por alguma coisa. E se fores ainda mais fundo, ainda chegas à conclusão que quem te fez sofrer foste tu. Lol. E não vás mais fundo senão chegas à China.

grassa disse...

Nada que já não tenha pensado.

Pela minha forma de ser, também sou culpado, sim. Daí também me odiar. Daí também cuspir em mim sempre que posso. Ou em partes de mim, pelo menos.

jacklyn disse...

LOL. E cuspir ajuda. E podes experimentar outras coisas, também ajudam... a diminuir o ódio, também.

grassa disse...

Existem, pois.

Coisas como "estabilidade emocional", que é coisa que já tenho vai para uns anitos.
E que sabe estupidamente bem.
E que raramente me leva a olhar para trás.

jacklyn disse...

Que bom. Eu também tenho, apesar de estar sozinha, se bem que muita gente não percebe como é que se pode ter estabilidade emocional sem estar numa relação. Eu tenho estabilidade emocional, comigo.

Isa disse...

Foda-se! como é que se pode ter estabilidade emocional sem estar numa relação?? mas está tudo doido ou quê? Como é que sequer se entra numa relação sem estabilidade emocional!
Eu ouço cada uma...

E Jacklyn, acredito que consigas mesmo conviver com a ideia do pai dos teus filhos ter outra mulher e era assim que devia ser sempre.

Grassa, se me permites, sabes o quanto te admiro exactamente por dizeres o que pensas e sentes, mas vai lá tratar disso que isso faz-te mal pá.

E não cuspas em ti que isso é uma javardice.

jacklyn disse...

Lol.
Pois, o que eu disse provoca sempre polémica, mas digo-o no sentido em que se soubermos lidar connosco próprios temos meio caminho andado para lidarmos com os outros. Porque nós reagimos aos outros como os outros reagem a nós. E se estivermos bem connosco estaremos bem com os outros, ou pelo menos ajuda bastante. Penso eu de que :)

Pulha Garcia disse...

Muito bem, Jackie. É isso mesmo. Não deves nada a ninguém.