4.2.10

Recordações

Tenho pensamentos que me tiram o ar, que de repente me assolam e me cortam simplesmente a respiração. Muito mau. Recordações de momentos terríveis em que algo ainda mais terrível aconteceu ou esteve na eminência de acontecer e eu, impotente, só a ver. E apesar de não terem sido muitos, esses acontecimentos amargos, a recordação deles é bastante frenquente e pior, aparece sem qualquer ligação ao que estou a fazer ou ver. É totalmente independente da minha vontade. Desde o Verão que me persegue a memória de uma situação que me esmaga, literalmente. Não consigo respirar, o peito não se mexe, encolhe e retesa-se, e dói. Literalmente. A eminência de uma desgraça, que a ter acontecido, teria mudado tudo o que conheço e o que sou. Desse momento falei talvez três vezes, porque se a lembrança me dói, verbalizá-la trucida-me. Hoje, mais uma vez, como todos os dias lembrei-me, mas hoje, não parei de respirar, e não me doeu tanto o peito. É por isso que escrevo sobre isso, só hoje tive coragem, porque hoje doeu um bocadinho menos. Hoje, agora, respiro, e dói, mas o vislumbre da possibilidade de me livrar disto dá-me algum alento. Tinha a certeza que isto iria perseguir-me toda a vida... talvez não.

6 comentários:

grassa disse...

Deixa lá: já todos demos joelhadas em esquinas de mesas.

Isso passa, eventualmente.

jacklyn disse...

Pois, fodido é aguentar até ao eventualmente.

Isa disse...

O eventualmente está cada vez mais certamente, pelo que acabei de ler.

Depois um dia a recordação arranja um espaço dentro de nós,molda-se, acomoda-se e passamos a viver em harmonia.

Diferentes, mas em harmonia.E são estas mudanças que nos fazem. E vou parar de divagar que já me estou a meter noijo.

jacklyn disse...

É verdade Isa. Apesar de ter passado meses convencida que não, percebo que é possível guardar estes momentos dentro de mim com alguma harmonia. Ainda não cheguei lá, só estou a começar a desbravar o caminho.

Bípede Falante disse...

Jacklyn, já estou de volta da Bahia firme e forte para continuar lendo os blogs. O seu como de costume, puxa o trem das leituras. E por falar em trens, eu sei o que é ter uma lembrança que custa a sair dos trilhos, que a gente quer que capote, exploda e nada dela ir embora. Tenho ainda a minha. Está mais distante. Em algum momento trocou o itinerário e agora a vejo de longe, mas vejo. Pode ser que um dia ela cruze alguma fronteira e nunca mais volte. Sei lá.

jacklyn disse...

Tenhamos esperança e paciência cara Bípede. Um dia, se calhar, vamos poder metê-las bem dobradinhas, numa caixa pequenina e arrumá-la dentro do armário que é o nosso coração.