25.2.10

Razão directa

And off we go again!!! Fiz serão hoje. Saí do escritório já perto das 23:30h. Pronto, vai começar outra vez, quer dizer, já começou. A verdade é que é assim que eu gosto. Detesto ter trabalho para ir fazendo, prefiro ter muito trabalho todo para ontem porque assim estou concentrada, alerta e estimulada. Quanto menos faço, menos me apetece fazer. Assim, dá gosto! Desde que regressei já tenho dois novos projectos, ou seja dois novos clientes, duas novas marcas.  Trabalho na industria têxtil. Durante os primeiros 10 anos de actividade passei por várias empresas, todas do mesmo género, e passei também por quase todos os departamentos, não propositadamente, mas quiseram as circunstâncias que assim fosse. Conheço o "metier" de trás para a frente. Depois, há oitos anos, passei-me para o outro lado da barricada, o que para as empresas com quem trabalho é um bocadinho chato, porque sei todos os truques, eu também os fazia. Sei todas as manhas, conheço todas as mentiras. Enfim, dizia eu que tenho dois novos clientes. Um deles é uma grande estrutura, com centenas de lojas e uma marca desportiva/casual, que tenta desmarcar-se do conceito muito específico que durante anos manteve, desportos ao ar livre: Ski, golfe, caça, pesça, equitação, vela, e por aí fora. Fazem desde casacos impermeáveis às galochas para ir á pesca, passando pelos fatos de ski e pelos polos para o golfe. Estão a desenvolver produtos connosco que não conseguem desenvolver na Ásia, não tanto devido aos materias nobres que fazem questão em utilizar, mas mais pelas quantidades que para as fábricas com milhares de trabalhadores da China e do Bangladesh, são grãozinhos de milho num silo de toneladas. Eu estou a gostar, não muito dos modelos, não são nada de especial, mas porque estou a ter a oportunidade de aprender tudo o que há a aprender sobre algodão orgânico, polyester reciclável, linho, tratamentos que protegem dos raios ultra-violeta, tratamentos anti-bacterianos, características sobre fibras técnicas que fazem coisas que ninguém sonha com a transpiração, tudo isto traduzido em peças de roupa. Interessantíssimo para quem "fazia" t-shirts em 100% algodão. Ok, também sei tudo o que há para saber sobre uma t-shirt em algodão, sobre técnicas de tingimento e de estamparia, sobre tratamentos de cloro ou de lazer, sobre encolhimentos e torções, sobre resistência de cores à luz, à água ou à fricção. Mas agora tudo é novo, e se há alguma coisa boa neste trabalho de ver nascer as peças de roupa de um desenho num papel, é que há sempre algo novo a aprender, os modelos mudam sempre, todas as estações, isso toda a gente sabe, mas aqui é diferente, tudo é novo. E como eu gosto de aprender, estou a gostar imenso. Não vou gostar é de ter de lidar com toda a burocracia inerente a uma grande empresa, os vários departamentos com várias pessoas diferentes cujos nomes vou ter de decorar e associar a cada assunto, a cadeia de decisões demasiado lenta precisamente porque há imensas pessoas envolvidas em cada merdice, e a tacanhez de alguns dos departamentos cuja capacidade de adaptação já notei ser reduzidíssima.

O outro cliente é completamente diferente, um conceito que me é muito familiar, coisas dentro do que descrevi acima e que domino com uma perna às costas. Mas este cromo é um gajo que conheço há anos, que já trabalhou numa das marcas que ajudei a lançar, daquelas que quando chegam a ser comercializadas em Portugal uns anos depois, já eu estou cheia delas até aos olhos que nem consigo usar os modelos sequer, e este cromo é um perigo ambulante. Apesar de eu saber perfeitamente o que ele quer, tenho de ter muito cuidado com ele, porque este melro é dos que sacode a água do capote. Não lhe convindo é gajo para dizer que fui eu que não percebi nada e que ele não disse nada disso, sim porque este é dos que telefona, deve ser alérgico à caneta ou ao teclado. Comeu-me de cebolada uma vez, a primeira. Depois deu-me foi trabalho, o trabalho de ter de escrever tudo o que ele dizia ao telefone logo a seguir, mas que remédio tenho eu, o gajo é teimoso e não muda. Mas também não me come de cebolada. Espero é que a marca dele venda, é que aturar doidos aturo, na boa, mas que os números o justifiquem, porque está frio sim senhor, mas não trabalho para aquecer.

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