22.2.10

Negação

Revi um filme que me encanta. A Festa de Babette. Ou como os prazeres do corpo são negados pela suposta redenção da alma. Não posso, não posso com isto! Somos corpo e somos alma. Não somos só corpo nem só alma, ok? Sentimos, desejamos, e não há volta a dar-lhe. Fomos ensinados durante séculos a negar tudo isso. Só que não se pode negar o que é real. Não se podem negar estes factos. A questão é outra, é o que fazemos e como lidamos esta realidade, do sentir, do desejar. Mas se pelo menos admitirmos estes factos, parece-me que vivemos muito melhor, independentemente do que se faça com eles. O filme anda à volta de comida, de um magnífico jantar e de como um grupo de pessoas vê o prazer da comida como a encarnação do demónio. Fazem um pacto, de que não emitirão uma palavra sobre as iguarias que lhes são apresentadas. Lindo é ver que depois de saborearem todos os pratos e o champagne mais o vinho e o licor, as feições alteram-se-lhes, a nuvem negra sobre aquelas alminhas desaparece, as bochechas ficam coradinhas e os sorrisos despontam naturalmente. É sobre comida, mas para mim aplica-se perfeitamente a montes de outras coisas.

2 comentários:

Bípede Falante disse...

Sempre tive curiosidade de provar a tal sopa de tartaruga, mas depois que estive no projeto Tamar e as vi de perto e tão grandes e me liguei que são répteis e tal, fiquei meio enojada. De qualquer forma, o filme é primoroso e vai muito além de preparar a comida. É sobre nutrir os prazeres de uma boa amizade e, realmente, não existe nada mais delicioso do que os bons amigos.

jacklyn disse...

Este é um filme que eu vejo e revejo e revejo, sempre com a mesma intensidade. Todos os pontos que ele foca me tocam. Uns pela positiva e outros pela negativa. E adoro toda a sensualidade da preparação daquela refeição, da entrega daquela mulher ao que realmente lhe dá prazer e a faz sentir viva, mesmo que para isso tenha de gastar toda a fortuna que ganhou e que poderia proporcionar-lhe uma vida bem melhor. Ela abdica disso por amor à sua arte.