12.9.09

Puzzle (parte 1) Fúria

Andei ontem todo o dia a pensar. A pensar que tinha de por isto cá fora para melhor reciocinar sobre o assunto. Ajuda-me escrever (falar também) porque analiso o meu raciocínio e entendo-o. Clarifica-me as ideias, situa-me. É que os pensamentos andam aqui às voltas a alta velocidade, e para conseguir organiza-los de forma minimamente lógica tenho de fazer uma espécie de pausa, po-los a circular mais lentamente e ir agarrando cada um deles e coloca-los como se fossem um puzzle, na devida ordem, numa superfície lisa e ampla. Esta superfície tanto pode ser uma conversa como pode ser um texto. Então andei eu ontem todo dia com a questão a dar-me a volta ao miolo. Todo o dia. E não tive oportunidade de fazer o meu puzzle. Estou a construi-lo apenas agora. Achava eu que era uma pessoa tolerante, mas não sou. Tive já várias vezes a experiência de sentir a raiva a crescer dentro de mim, sempre direccionada ao mesmo tipo de pessoas. Não, não creio que seja racismo. Irritam-me profundamente, ao ponto de sentir uma fúria capaz de se materializar num murro, tivesse eu essa possibilidade e deixasse eu essa fúria tomar conta de mim, pessoas que criticam ou ridicularizam outras pessoas, ou seja que não são tolerantes e as julgam por qualquer motivo, seja ele qual for, não interessa. Mas são diferentes e isso por si só constitui motivo suficiente. Observar este tipo de situação perturba-me de uma forma visceral. Outra coisa que me dá cabo do sistema é ver pessoas que só porque parece mal não fazem determinadas coisas, que até lhes apetece muito, até lhes iria dar um gozo tremendo, mas só porque parece mal não fazem. Coisas simples, muito simples. E quanto mais simples são estas coisas mais me irrita. Esta expressão "parece mal" agonia-me. E mais do que se pensa está enraizada no interior de muita gente. É uma coisa que me transcende, a condicionante do "parece mal". As pessoas vivem limitadas pelo "parece mal" e são incapazes de fazer seja o que for que pareça mal. Estes são, então, dois tipos de pessoas que me enfurecem. As pessoas para quem ser diferente é motivo suficiente para a crítica e as pessoas que se regem pelo "parece mal".

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