8.9.09
Legitimidade
O meu pai é o único gajo que me deita abaixo. Só ele o consegue fazer. Só ele, mais ninguém. Só a ele reconheço legitimidade para o fazer. Talvez porque ele é igual a mim. Temos uma diferença: enquanto eu admito isto, ele não. Sempre tivemos uma relação conflituosa, sempre a medir forças. Talvez por sermos tão parecidos. Nunca recebi dele um elogio, fosse pelo que fosse. As boas notas não eram mais do que a minha obrigação. O sucesso profissional não foi mais do que básica aplicação das faculdades adquiridas na escola. A construção de uma família equilibrada não foi mais do que uma mistura de sorte e boa educação. A ruína do meu casamento foi da minha responsabilidade e paradoxalmente, no seu ponto de vista a minha obrigação seria de engolir em seco e continuar. Só porque sou mulher. Ele, no meu lugar teria feito a mesma coisa, mas sendo homem é-lhe permitido. A mim não. Mas ao perceber que mesmo contra a sua vontade eu avancei com a minha decisão, interiorizou que afinal, não é mau ver-me tão parecida com ele. Ele que pensa em tudo, ele que medita tanto e que quando toma uma decisão não volta atrás. Quando percebeu que era isto que estava a acontecer, que era uma decisão pensada, repensada e sem qualquer possibilidade de ser revertida, eu sei que no fundo gostou, não o admitirá nunca, mas gostou de ver.
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