21.5.11

Aparências

O dia está cinzento, eu também. O ar está húmido, pegajoso, eu também. Os rapazes foram à piscina, estou sozinha em casa e olho lá para fora e penso que não me apetece sair. Vou tomar um duche, secar o cabelo e maquilhar-me. Poderá parecer exagerado para uma ida ao supermercado mas não é mais do que uma miserável tentativa para esconder o cinzento que há dentro de mim. Quanto mais escuro o cinzento melhor me arranjo, para disfarçar, para despistar. Será que alguém percebe que quanto mais despojada de adereços, quando mais limpa a pele, quanto mais transparente estiver por fora, melhor me sinto por dentro? Será que as mulheres que vejo todas aperaltadas sentem o negro por dentro? Será que quanto mais alto for o salto mais baixo o espírito? Será que quanto mais bonita a roupa mais apertado o coração? Penso nelas e pergunto-me, de todas as bem cuidadas por fora quantas se sentirão realmente bem consigo próprias? E das outras, das que passam despercebidas, quantas se sentirão felizes?

8 comentários:

Junkie Jones disse...

Cara Jaquelina, aqui partilho de um sentimento teu, acho eu, que pelos vistos já ficou a descoberto em comentários anteriores que estamos em diferentes comprimentos de onda.

Mas voltando onde eu ia, e acerca dos outros, muitas vezes me interrogo sobre os outros, e esmaga-me esse pensamento.

Já o meu mundo interior por vezes é tão complexo e pesado, agora se o multiplico por milhares ou milhões de outros mudos interiores, a coisa toma proporções biblicas.

jacklyn disse...

Eu acho muito interessante, acho que é aliás, das coisas que mais me fascina, o comportamento, reacções e sentimentos das pessoas. E bem ou mal, parto de mim própria e pergunto-se sempre se os outros serão assim ou não. Quando digo assim, quero dizer como eu.

Junkie Jones disse...

Mas claro que não são, e isso é que é fascinante, ou assustador.

Ainda mais interessante seria que fosse possivel concentrar num só ponto toda a energia de tantos pensamentos, sentimentos, emoções e vontades de tantos milhões de pessoas diferentes.
Era coisa para alimentar as necessidades energéticas da humanidade para sempre, só falta descobrir como fazê-lo.

Finada Lolita disse...

Curiosamente tenho em crer que uma grande parte das mulheres que têm uma aparência exterior fantástica, utilizam-na para esconder o que de mau vai lá dentro. Será uma forma de suprir a falta do bem-estar, da alegria, da felicidade.
Há quem beba, e há quem se arranje para esquecer, será mais ou menos isto.

jacklyn disse...

Acho que sim Lolita, que é algures por aí :) é para compensar qualquer coisa de certeza.

Mutante disse...

Simple is beautiful.

O que vai lá dentro, salta pelos olhos (a tal janela da alma), independentemente, ou quase, da fachada. Ah!, e os cantos da boca. Esses mentem muito mal, a alma também se vê por aí.

Tenhamos as banhocas em dia e a roupa limpinha, sim, mas dediquemo-nos sobretudo a tratar de nós lá por dentro. Acho.

jacklyn disse...

Olá Mutante, benvinda :)
E tratar da parte de dentro, apesar de aparentemente não dar tanto trabalho é bem mais díficil, não é? Acho que custa bem mais, quando se quer verdadeiramente melhorar.

CB disse...

Jacklyn, por acaso acho que não é sempre assim. Ou serei eu que sou mesmo desregulada. Realmente, há dias em que faço um esforço por me arranjar melhor quanto pior me sinto. E o mais incríveel é que, quase sempre, ajuda mesmo. Mas também é verdade que há dias em que o salto alto e o arrojo ou feminilidade do que escolho vestir é simplesmente reflexo do bem que me sinto. Que, felizmente, ainda há dias em que me sinto bem. Mas sinta-me bem ou mal, todos os dias gosto de andar bem arranjada. O que marca a diferença, no meu caso, é o esforço com que o faço. É muito fácil e intuitivo quando me sinto feliz, bastante penoso e estudado quando quero esconder alguma coisa. Acho que cuidar da imagem nos faz sempre bem, por mais fútil que possa parecer.