12.1.10

O príncipe encantado

Hoje lembrei-me da minha prima S., às vezes lembro-me dela, de quem fui muito próxima há muitos anos, mas que cortou relações comigo tinha eu 18 anos e ela 22. Éramos muito amigas e por isso, quando ela se encantou com um fulano inglês, que os meus tios descreviam como um príncipe encantado, ai meu Deus que a nossa S. teve tanta sorte, ai meu Deus que ele foi motorista da princesa Diana e mais disparates deste género, tomei a liberdade de tentar abrir-lhe os olhos relativamente ao seu príncipe. Quando ele veio conhecer a família eu era a única pessoa que falava fluentemente inglês. Passamos a tarde a passear pela cidade, a tomar cafés nas esplanadas e a conversar, os três. Sucede que a história do inglês não batia certo, estava muito mal contada. Cheirou-me imediatamente a esturro, e a minha consciência mandou que depois, mandasse carta à minha prima, alertando-a para as lacunas na história. O que lhe escrevi foi basicamente isto: se sabes de tudo da vida dele, de todos os podres, estou contigo, seja ele o maior assassino à face da terra, estou contigo. Se não sabes, por favor fica alerta, se te vais casar com ele, fica atenta. A nossa amizade permitia-me, mais, obrigava-me a isto. Contudo quando recebi a resposta percebi que ela estava perdida. Foi ele que me respondeu, a enxovalhar-me e no meio de outros insultos chamou-me invejosa porque o que eu queria era ter arranjado um gajo como ele. Obviamente que a partir daí não houve qualquer tipo de comunicação. Soube anos mais tarde que ele a espancava frequentemente, e que ela lhe fugiu diversas vezes indo para junto dos pais, a viver no estrangeiro na altura e que ele, de todas as vezes a foi buscar, e que ela, de todas as vezes veio. Soube que depois conseguiu desenvencilhar-se dele, não sei como mas conseguiu. A única coisa que me pesa, no que diz respeito à minha prima S. é não ter conseguido evitar-lhe as grandessíssimas sovas com que o seu príncipe inglês a presenteou durante tantos anos.

1 comentário:

Bípede Falante disse...

É... não adianta... as pessoas acreditam no que querem acreditar, ou seja, normalmente, que tudo vai ser como o planejado.