9.1.10

Jacklyn

Cedo aprendi que na vida há muitas áreas cinzentas, ainda na adolescência e tanto quanto a pouca maturidade me permitia. Por essa altura aconteceu-me aquilo que acontece a todos os adolescentes, saí da casca, descobri o mundo, as pessoas e comecei a perceber que cada pessoa, cada vida tem as suas nuances, muito próprias cuja mistura é única e intransmissível, que cada um constrói a sua paleta de cores e as utiliza, alguns apenas a seu gosto e outros na tentativa de ir ao encontro de gostos que não são bem os seus. Também compreendi que as pessoas são feitas de opções, apesar de não compreender essas opções, não era possível compreende-las, o meu caminho estava apenas a começar, tão somente tinha aberto a porta. Fui obrigada a relacionar-me com pessoas que não conhecia, fui obrigada a ajustar a minha atitude para com os outros e fui-me descobrindo a mim própria, à medida que ia domando os leões para os quais fui atirada ainda tão tenra. Descobri na diversidade das pessoas, os comportamentos, as reacções, a alegria de viver, a mais completa frustração, a amarga resignação, os ódios pessoais, a vingança e o rancor, a competência e brio profissionais, as mais perfeitas imbecilidades, o ter coragem para enfrentar o chefe mas a total submissão ao conjuge, a miséria de casamentos falhados mantidos ninguém sabe porquê, a podridão e o equilibrio vindos de relações extra-conjugais, as pequenas tiranias, a facilidade de se rir de si próprio mesmo nos piores momentos. Descobri tudo isto e muito mais, tinha 16 anos, na empresa para onde fui trabalhar. Foi também nessa altura conheci a pessoa mais importante na construção da mulher que sou hoje, a mulher que homenageio com o nome Jacklyn, que não é evidentemente o meu, nem o dela, mas ela sabe que é assim que lhe chamo. Foi esta mulher que me ensinou a pensar, não me ensinou como pensar, mas a pensar, não me mostrou o caminho, mostrou-me que havia vários, e escolhê-lo me competia apenas a mim. E isso, querida Jacklyn, agradecer-te-ei até ao fim do mundo.

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