Há muitos anos atrás eu era uma rapariga muito bem disposta, sempre porreira, sempre com uma piada debaixo da língua para qualquer situação, de gargalhada fácil e sorrisos para dar e vender. Ora, com o passar dos anos e das desilusões, esta maneira de ser como que se esfumou. Foi-se para parte incerta, deu de frosques. Os sorrisos passaram a ser escassos, as piadas muito raras e as gargalhadas então, quase que era preciso meter requerimento para saltar uma cá para fora. Reparo que agora está de regresso uma característica que há muitos anos atrás eu tinha e que também tinha desandado da minha vida. Eu tinha de forma algo frequente ataques de riso incontroláveis e digamos, vá lá, muito chatos em determinadas alturas, despoletados por pequenas merdas que podiam ser uma expressão no rosto de alguém, e também, na maior parte das vezes, por alguma coisa que eu imaginava. E quando era algo que só se passava na minha mente, era obvimente muito difícil que alguém além de moi-même achasse graça. Mas eu ria, gargalhava alto e bom som, chorava de tanto rir, a pontos de ficar com dores no abdómen e nos maxilares. E não conseguia parar, quer dizer conseguia, mas só depois de muito chorar e gargalhar. Pior do que isto, é que mesmo depois, já controlada a situação, se me voltasse a vir à ideia a cena, desatava a rir outra vez, assim do nada, sem conseguir parar de imediato. Tolinha a rapariga, não deve ser boa da cabeça, era o que estava estampado nas caras de quem assistia a estes episódios. Pois bem, esta merda está de volta. Não posso fazer nada, está de volta. Aqui há umas semanas fiz esta triste figurinha quando vi a notícia do senhor que espatifou os militares na estrada ao lado do quartel de Tancos. Mau gosto, eu sei, coitados dos mancebos. Mas foi inevitável, eu só imaginava a carrinha bater-lhes, levanta-los e eles a cairem uns para um lado e outros para o outro. Mau, muito mau. Mas eu só me ria, e chorava de tanto rir a imaginar a cena. Isto ao almoço. Depois cheguei ao trabalho e fui ler as noticias online e há uma frase que me volta a provocar as gargalhadas. Qualquer coisa do género, maioritariamente ferimentos do foro ortopédico. Minha gente, foi de gritos, perninhas e bracinhos partidos, e imediatamente e minha mente distorcida vê os moços a voar e a tombar. Uma desgraça. Fui enxovalhada como é bom de ver, pelas minhas colegas de trabalho. E passei a tarde nisto, várias vezes me vinha isto à cabeça e começava a dança. Um verdadeiro festival de insultos de toda a espécie vindo das minhas queridas colegas. Acontece que aqui há dias, mais propriamente no dia de Ano Novo, estava eu a chegar a casa dos meus pais para almoçar, acompanhada do meu brother, que ultimamente tem sido o meu chauffeur privé, empoleirada em duas canadianas emprestadas, a que eu chamo carinhosamente muletas, e mesmo antes de chegar ao portão, o meu irmão alerta-me para as partes do piso que são escorregadias, para eu ter cuidado. Oh que caralho, foi o suficiente, comecei-me logo a rir, fiz logo o filme todo, só me via a escorregar, a estatelar o cú no chão, de pernas abertas e as putas das muletas a voar...
(e estou aqui a contar isto porque ontem à noite, ao deitar-me, não sei porque carga d'água, lembrei-me desta cena, do cú no chão e das muletas a voar, e tive outro ataque de riso, não posso mesmo fazer nada contra isto)
Sem comentários:
Enviar um comentário