1.11.09

O amante

Ou como um dia magnifico termina numa noite sumptuosa. Continuo com o meu copo de vinho e deparo-me com um do filmes que mais me marcou nos verdes anos. Sempre me interroguei sobre como seria rever este filme agora. Ver este filme com os novos olhos que tenho, com a nova cabeça que tenho, senti-lo como a nova pessoa que sou. Evidentemente que o vi de forma diferente. Vi-o sumptuosamente. Avassalador. Derrubou-me. Vi muito do que sou hoje, muito do que recentemente descobri sobre mim. Fez-me rir quando vi a rapariga desabotoar a camisa do chinês, percebi porque gosto tanto de botões, de botões desabotoados revelando a pele. Vi porque gosto tanto do contacto da pele, vi tanto, mas tanto. Eu sou aquela rapariga, só que já não sou rapariga. Sou mas já não sou. Nunca fui, e fui sempre a rapariga que desabotoa a camisa ao chinês, que lhe acaricia a pele macia na voracidade da descoberta. Eu gostava de ter um amante. Um amante que me tomasse à porta, cujo desejo o impedisse de chegar sequer à cama, que me saciasse ali, no chão, como eles pregados um ao outro no chão. Eu gostava de ter um amante, que não me amasse, como eles, sem amor, só desejo de pele e de carne. Desprovidos de sentimentos, e no entanto cúmplices na escuridão do quarto, mas expostos ao ruído da rua. Eu gostava de ter um amante, mas ao contrário dele, que não se apaixonasse perdidamente por mim, garantindo-me pelo menos a ilusão de que eu nunca me apaixonaria por ele. Há-de haver um homem, algures, capaz disto, é um homem, é um amante assim que eu quero.

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