19.4.09

Fechar a porta

Há coisas que automaticamente provocam uma reacção em nós. Seja ela puramente física, arrepios, náuseas, água na boca, ou mais complexa como excitação, desprezo ou raiva, ou seja emoções.
Identificadas, essas coisas podem ser evitadas ou estimuladas, nada de novo aqui.
Mas não consigo deixar de pensar que se procuramos os estimulos que nos provocam as reacções agradáveis já não somos espontâneos.
Já sabemos o que vai acontecer, programamos ou fantasiamos, e o nosso comportamento seguirá o seu caminho habitual, que já foi percorrido antes, de uma forma ou de outra, mas sempre dentro daquilo que sabemos que acontece.
E, outra vez, nada de novo. Este é o problema.
Transportando esta teoria (que pode ser aplicada a quase todas as situações) para as relações entre pessoas, interessa-me perceber o motivo pelo qual procuramos invariavelmente as mesmas coisas, as mesmas características nas pessoas.
Grande coisa, se é aquele tipo de pessoa que nos atrai, não percamos tempo com outro tipo, que à partida sabemos que não nos interessa.
E não há abertura para a surpresa, para a novidade. Não acreditamos que podemos aprender sempre alguma coisa mesmo com quem não imaginamos.
Conheço pessoas que fecham a porta a quem não corresponde ao modelo pré-definido. Não gastam tempo (não gosto de dizer "perder tempo" relativamente a pessoas) a descobrir alguém novo se não puderem inclui-lo(a) na categoria dos "interessantes".
Mas acho que todas as pessoas têm alguma coisa a dizer, podemos gostar ou não, podemos concordar ou não, mas deveríamos ao menos ouvir, dar a oportunidade, ou melhor agarrar a oportunidade, porque sendo diferentes de nós, há algo que fica em nós. Bom ou mau, não interessa. Mas fica.
O uso que damos depois ao que fica, é connosco, é certo. Pensamos, filtramos, analisamos, ou juntamos uma coisa que é nossa, misturamos tudo e ganhamos algo que não tinhamos antes.
Eu, que sou por hábito demasiado racional, tento contrariar-me.Aprendi da pior forma que ser demasiado racional não é bom para mim. E tento mudar.
É muito mais saudável ser espontânea. Não fechar as portas, deixar sempre uma brecha, maior ou menor, para que as novidades entrem, e para que às vezes, algumas delas me surpreendam.

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