11.4.11
O gordo
O Berto Gordo foi sempre gordo, desde pequeno, e nunca foi um rapaz bonito. Mas o Berto Gordo arranjou namorada e casou-se. Tem um filho adolescente que é sobre-dotado, frequenta uma escola de música desde muito pequenino, não tenho a certeza que instrumento o miúdo toca, e canta maravilhosamente. O filho do Berto Gordo não é gordo, e é um rapaz bonito. O Berto Gordo ainda é gordo, está igual, mal ajeitado e balofo. Mas o Berto é um homem respeitado por todos, é prestável e simpático, é homem de palavra, trabalhador e membro activo da comunidade. É escuteiro e faz parte da comissão de festas da freguesia. Canta no coro da igreja, ao lado do seu rapaz. Imagino-o carinhoso com a esposa, só porque vejo alegria nos olhos e nas maneiras daquela mulher. Imagino o Berto gordo a comer desalmadamente à mesa, um prato cheio a seguir ao outro, e no fim um elogio rasgado aos dotes culinários da esposa. Imagino o Berto gordo a deixar ocasionalmente a tampa da sanita levantada mas imagino-o também a barbear-se religiosamente e a tomar o seu duche antes de se deitar ao lado da mulher. Imagino a mulher do Berto gordo a virar-se para ele a sorrir-lhe por sentir o cheiro a fresco e a lavado. Imagino-os a fazer amor.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Em geral os gordos são amáveis.
É verdade. Porque será?
De todos aqueles que eu julgo meus amigos, há um que é seguramente especial, e é gordo.
É gordo desde que me lembro dele, é um dos tipos mais inteligentes e com melhor sentido de humor que conheço, daquelas pessoas com quem é tão fácil simpatizar.
Só muitos anos depois de o conhecer, percebi que por vezes encerra em si uma das maiores tristezas que já vi existir em alguém.
O que leva a pensar que nunca conhecemos verdadeiramente ninguém, certo?
Enviar um comentário