28.12.09

Inverno

Não chovia, e o vento só o percebi no final da recta que termina no mar. Não é só o mar, os quilómetros que faço para lá chegar também me fazem bem. Não o vi, só vislumbrei as linhas brancas sofregas que uma atrás da outra se desfaziam no negro. O dia tinha morrido no caminho. Contornei a rotunda e segui na marginal e vi só as luzas dos navios ao longe. Ninguém. Continuei a subir e a água já não era mar, era rio, bravo, revolto. A água corria baça, negra e baça. Ainda ninguém. Vento, folhas e umas gotas de água avulsas. A outra margem repetida na água mas desfocada, difusa. A água corria baça. As luzes da outra margem são baças, tristes. Apeteceu-me parar e sair, apeteceu-me vento e frio na cara, apeteceu-me. Não saí, continuei. A água corria baça. As luzes continuam tristes. O vento continua a soprar o Inverno, na rua, na água. É Inverno na rua, na água, e em mim.

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