29.3.11
Waste
É a segunda vez que sou deitada fora, ao lixo. Como um objecto que não tem utilidade, que não serve para nada e que ocupa um lugar que não possui pois esse lugar pertence a outro. Então resta só livrar-se desse objecto. Da primeira vez, esse espaço era dele, apenas dele e do seu ego. Eu, de nada servia, e o meu amor foi comigo para o caixote do lixo. Agora, o espaço é dela, e ele, não se desfaz dela, porque ela está lá há mais tempo, mas o meu amor não vai para o lixo, ao invés é cuidadosamente colocado na recliclagem e periodicamente é aproveitado, mas nunca todo, só uma parte, a que interessa, a melhor, a mais refinada. Ainda assim, não passo de desperdício, não importam os detalhes, não importam as razões nem os motivos, o desperdício sou eu.
25.3.11
Choque
Estão a cortar árvores no jardim do centro da cidade, as árvores que desde que me lembro dão sombra aos bancos do jardim. Está tudo de pernas para o ar há meses, mas cortar as árvores? Não me habituo à ideia de cortar árvores adultas. Há coisas que por mais que se tornem banais não consigo habituar-me a elas. Como cortar árvores. Ou destruir livros. Não consigo.
24.3.11
Moda
Ok, ok, ok, entrou agora aqui uma colega com duas bolsas e uma carteira, ou porta-moedas ou lá como é que se chama, que fez para um dos clientes dela para nos mostrar e perguntar se queremos encomendar à fábrica que vai produzir a encomenda para o cliente. É prática corrente aqui no escritório, quando as produções são feitas cá, cada uma que se desunhe e compre à fábrica se quiser algum modelo, afinal todas nós conhecemos as fábricas todas, mas quando as encomendas são feitas na China, Tunísia ou Índia, e especialmente acessórios como sapatos, malas e carteiras, ou então peças de malha em caxemira, as colegas que seguem essas produções, no momento em que passam as encomendas às fábricas, mostram o artigo às outras colegas e passam também uma encomenda "pessoal" para a malta do escritório. Pois bem, chegou aqui a colega a mostrar as bolsas, são engraçadas até, e tomou nota dos pedidos. Uma disse que eram giras mas que não faziam o género dela, outra disse logo que não queria e outra achou gira uma bolsa fushia com aplicação de leopardo e uma cena dourada enorme ao meio. É gira para sair à noite, levou logo uma gargalhada geral, e por acaso tu até sais muito à noite, pois sais, e tu, virando-se a colega para mim, não queres nada? Eu? Na, eu, para sair à noite, prefiro foder os setenta euros em vodka.
23.3.11
Não precisa de título
Esta história da universidade, podia ter sido outra coisa qualquer, porque pensar é coisa que me acontece frequentemente, fez-me pensar. E penso na minha vida, onde estou e para onde vou. Ainda não sei assim muito bem. Penso no que foi a minha vida desde que me conheço adulta e comparo com o que vivi nos últimos meses. Penso no meu percurso profissional e no que espero ainda alcançar. Penso nos meus filhos e na marca que gostaria de lhes deixar. Penso essencialmente em mim. Sou tão exigente, tão rigorosa em determinados aspectos e tão desleixada noutros. Gosto de pensar que valorizo muito mais aquilo que importa e o que considero superficial é tratado simplesmente assim, como superficial, sem direito a grande tempo ou esforço, mas este balanço é somente o meu. Aprendi a perdoar e hoje sei que é dos estados mais libertadores que podemos atingir. Há alguns anos achava que nunca perdoaria determinadas atitudes, mas isso só significa agarrarmo-nos a coisas más, e quem se agarra a coisas más fica mau, fica azedo. Quando perdoamos os outros libertamo-nos de nós mesmos, e quem nos olha com desdém porque somos parvos ou fracos é aos nossos olhos apenas mesquinho. Avançamos, deixamos o que nos faz mal para trás e às vezes pessoas também, mas percebemos que não precisamos delas para nada. Nem para nos sentirmos fortes, nem para sermos felizes. Para sermos felizes temos de perdoar a nós próprios, mas isso, ainda não aprendi.
22.3.11
Para começar
Para começar a pensar no assunto acho que um curso de Português, ou de Literatura Portuguesa seria bom. Podia ser também de Inglês, ou isto tudo junto. E já vi que existe um, em horário pós-laboral, que se chama assim:
Licenciatura em Línguas e Literaturas Europeias
variante bilingue major Português
minor Inglês, Alemão, Francês ou Espanhol
Sou gaja para ir pelo Inglês por não constituir motivo para qualquer preocupação, ou pelo Francês, pelo desafio de aprofundar uma língua que utilizo diariamente numa base comercial, mas que considero deliciosa. Vou pensar.
18.3.11
E agora?
Estou um bocadinho triste, acabaram as minhas aulas. Afinal já frequentei mais aulas do que necessário. Confusões com o meu registo escolar que quase que tive de resolver à estalada, mas ficou tudo definido e perceberam que já está. Mas estava a gostar. Resta-me completar um port-folio absolutamente inútil. Agora penso no que fazer a seguir. Universidade? Talvez. E o quê? Difícil.
17.3.11
Começar bem o dia
Comecei o dia de trabalho hoje com um comentário que, francamente, não poderia nunca ser proferido por um homem sem ser considerado ordinário mas foi a C., a nossa C., a caçula aqui do people do escritório. Então a C. quando me viu hoje a entrar no escritório, ainda nem sequer tinha tido tempo para tirar os óculos de sol, sai-se-me com isto:
Eu: Bom dia.
Ela: Bom dia. Ui, sabes o que tu pareces hoje?
Eu: Não, o quê?
Ela: Pareces uma daquelas gajas dos filmes, que por baixo do casaco apertado só têm uma lingerie sexy e depois abrem o casaco e uau, arrasam.
(depois de termos conseguido parar de rir)
Eu: Oh C., foda-se pá, tu não bates bem, mas gostei da ideia.
Ela: É dos saltos altos, e do casaco assim apertado com um nó, fica-te bem.
Há melhor? Não há.
Eu: Bom dia.
Ela: Bom dia. Ui, sabes o que tu pareces hoje?
Eu: Não, o quê?
Ela: Pareces uma daquelas gajas dos filmes, que por baixo do casaco apertado só têm uma lingerie sexy e depois abrem o casaco e uau, arrasam.
(depois de termos conseguido parar de rir)
Eu: Oh C., foda-se pá, tu não bates bem, mas gostei da ideia.
Ela: É dos saltos altos, e do casaco assim apertado com um nó, fica-te bem.
Há melhor? Não há.
16.3.11
Ena!
E eis que me chega esta manhã às mãos um novo dossier, anunciado há duas semanas pelo meu patrão. Um velho amigo seu, disse-me, voltou e quer imperativamente tê-la a si. E cá está, o tipo que me pôs a cabeça em água há uns anos atrás e que depois de uma violenta discussão que me fez gritar o mais alto que consegui ao telefone e de seguida lho desligar nas trombas, foi remédio santo, ficamos grandes amigos, voltou, com uma nova marca de roupa, um projecto muito engraçado, com muito potencial. E ao descobrir os modelos, as matérias-primas, o conceito, dou comigo a sentir a adrenalina nas veias. Já não era sem tempo.
15.3.11
Coragem
No fim-de-semana tive vários momentos em que pensei: e se fumasses um cigarro agora? Estás sozinha e nunca ninguém saberia. Vais ao carro e pegas nos cigarros, é fácil. Ninguém sabe. E se fosses? Mas não fui. Ontem à noite tive a mesma ideia, e também não fui. O facto é que não tenho coragem. Desde que deixei de fumar há seis meses que mantenho um maço de cigarros num compartimento do carro. E desde aí que tenho vontade de fumar, todos os dias, várias vezes por dia, mas ontem percebi que chegada a este ponto, não fumo simplesmente porque não tenho coragem de fazer o caminho de volta. Um cigarro à noite, outro na noite seguinte. Em menos de nada estaria outra vez a derreter o maço diário. Não tenho coragem. Sou fraca.
14.3.11
Lógica
Ontem, ao almoço, à mesa:
Ele: Sabes mãe, quando eu era pequenino achava que o sal vinha do mar.
Eu: E vem filho, o sal vem do mar.
Ele: Eu sei, vem a água do mar, fica presa naquelas coisas...
Eu: Nas salinas...
Ele: Isso, nas salinas, evapora-se e fica o sal. Mas também achava que o acúcar vinha do rio.
Eu: Do rio?
Ele: Sim, (já a rir-se) a água do rio não é água doce?
(Choramos a rir)
Ele: Sabes mãe, quando eu era pequenino achava que o sal vinha do mar.
Eu: E vem filho, o sal vem do mar.
Ele: Eu sei, vem a água do mar, fica presa naquelas coisas...
Eu: Nas salinas...
Ele: Isso, nas salinas, evapora-se e fica o sal. Mas também achava que o acúcar vinha do rio.
Eu: Do rio?
Ele: Sim, (já a rir-se) a água do rio não é água doce?
(Choramos a rir)
Retenção
Enquanto estive a viver em casa dos meus pais experimentei um sentimento que não posso descrever como ciúme porque não sei se é ciúme. Foi a primeira vez que senti e acho que nunca tinha sentido ciúme antes. Chateava-me ter de partilhar constantemente os meus filhos, nunca estavam só comigo, havia sempre mais alguém. Nem à noite, ao deitar eu sossegava porque se eu estava com um deles, a minha mãe estava com o outro. Isto tudo misturado com o sentimento de gratidão e um profundo amor que sinto pelos meus pais causou-me bastante mau estar. Como posso eu ser assim quando se aqui estou é porque assim o quis e quando tenho todo o apoio dos meus pais e toda a generosidade e sacrifício da minha mãe, todo a segurança trazida pelo meu pai, como posso ser eu assim? Verbalizo pela primeira vez este meu podre, pois consegui encontrar ainda um outro. Agora que estou já em minha casa, com os meus filhos dou comigo a fazer retenção. Dou comigo a passar o fim-de-semana com eles sem vontade nenhuma de participar nos almoços de domingo. Não fui. Passei o dia com eles e eles foram só meus. Só para mim. À noite, pesou-me a consciência e telefonei aos meus pais, os miúdos falaram com eles e eu também. Verifiquei que o ciúme deu origem a outro podre. Sou um cesto de maçãs. A primeira já deu cabo da segunda e se não me livro delas rapidamente apodrecem todas. Mau, muito mau.
11.3.11
Genética
Às vezes penso, e se esta merda se sabe? Se alguém descobre e me chiba? O que pensarão os meus pais? O que pensarão os meus filhos? Acredito que será sempre mais fácil explicar aos meus filhos pois ainda não percebem o que é a vida destilada de emoções. Digo-lhes que o amo e pronto, eles aceitam. Por hora. Aos outros seria muito mais difícil e doloroso. A minha mãe morreria de desgosto, mulher crente, temerosa de Deus e profundamente religiosa. Desgosto. Nem quero pensar. O meu pai, não sei, o meu pai. Pois. Pensando bem no meu pai, a irmã mais velha só se casou com o pai do filho já parido e criado quando engravidou do segundo. Outra irmã, a única cuja história desconheço, foi "obrigada" a casar com um senhor viúvo cheio de filhos pequenos porque já estava a fazer asneiras a mais, a outra engravidou e pariu um filho que abandonou ao encargo da avó aos dezasseis anos, e desandou para Lisboa com os patrões, e um dos irmãos tendo emigrado para França nos anos sessenta, conheceu uma espanhola quente e quinze anos mais velha do que ele e nunca mais apareceu à mulher que cá tinha deixado, voltou vinte anos depois com a espanhola que nós sobrinhos conhecemos como mulher dele até já sermos adultos e descobrirmos a aventura do nosso tio. Casou-se com a espanhola um ano antes de morrer. A espanhola, a minha tia, ficou connosco até morrer. Perante isto, sinto-me tentada a pensar que esta merda só tinha era de acontecer, esta merda está-me no sangue. Com uma família assim, a puta da avaria genética tinha de calhar a alguém. Foi a mim. Olé!
9.3.11
A namorada
Ontem conheci a namorada do meu ex-marido. Já a tinha visto antes, entreguei-lhe os miúdos um dia em que o pai não conseguiu regressar a Portugal no voo previsto, acho que por altura dos fumos do vulcão que perturbaram os percursos aéreos em toda a Europa, e o pai iria chegar mais tarde e pediu-me para entregar os miúdos à namorada que os levaria para um almoço qualquer. Achei-a simpática. Ontem falamos um pouco, mais uma vez, o pai de viagem e ela prontificou-se para os levar com os filhos dela para verem um desfile de Carnaval numa aldeia onde os pais dela têm casa. Levei-os até casa dela e ficamos à conversa. É uma mulher despachada, simples, inteligente e simpática. É bonita mas não é sofisticada. Gosto dela. Já gostava antes, porque os meus filhos gostam muito dela e dos filhos dela também. Gostam de estar em casa dela e os relatos são sempre muito alegres e entusiásticos. Trata-os bem sem no entanto ser demasiado permissiva nem a amigalhaça que os deixa fazer tudo. Disse-me que há regras em casa dela e que faz questão que sejam respeitadas, o que me agradou muito ouvir. As minhas amigas que já a conhecem tinham-me dito que é uma tipa porreira, sem merdas, assim como nós. Ontem pude comprovar que é mesmo. Disse-me também, na cara, que gostaria que eu a visse como uma amiga dos meus filhos e como minha amiga também. Respondi-lhe que sentia que sim, que era amiga dos meus filhos, que eles gostam muito dela e que isso me deixa muito contente. Não respondi à parte de ser minha amiga, acho que não faz muito sentido, mas acredito que é uma mulher que poderia perfeitamente sê-lo. Sem merdas.
7.3.11
Uma mulher séria
O que é uma mulher séria? Vi há pouco esta expressão num blog que costumo ler. Lá onde a li dizia que uma mulher séria não diz asneiras, não apanha uma bebedeira, não vê filmes pornográficos, não dorme com estranhos. Será? O que é que faz duma mulher realmente séria?
4.3.11
Larguezas
A sensação das putas das calças a ficarem largas no rabo é excelente, já sentir o soutien a dançar é mais fodido. Já vão as mamas para o caralho outra vez. Foram dois abaixo.
3.3.11
Gás
É só mesmo para dizer que o meu fogão é um Porsche. Não, não é um Porsche porque não custou nenhuma fortuna, mas dá um gás... um luxo. É uma maravilha, e um fogão em condições é meio caminho andando para bons pratos e barriguinhas cheias e consoladas. E pronto, só queria dizer mesmo isto. Há quem venha falar de roupa ou sapatos, eu falo do meu fogão. Até aqui era a banheira, agora é o fogão, e depois? Há crise?
1.3.11
Sucesso
Vou falar outra vez do Facebook e do grupo da minha escola. Não resisto. Há um tipo que foi da minha turma, era muito popular, senão o mais popular da escola. Era giro, engraçado, destemido, tudo o que um rapaz na adolescência quer ser e só muito poucos são. Além disso era simpático e falava com toda a gente, mesmo com quem não era popular como ele. De vez em quando cruzo-me com ele, ora na rua, de carro, ora no super mercado, cumprimenta-me sempre, e já o vi inclusivamente num concerto em Lisboa, grande coincidência. Mas de há uns anos para cá vejo-o triste e apagado. Houve um dia até, em que o encontrei e quando me viu sorriu e vi naquele sorriso uma característica que me era tão familiar. Vi um sorriso de socorro, de alguém que não se sentindo bem, a lembrança que eu lhe trazia, dos tempos de escola em que a vida lhe corria bem, em que era feliz, o fez sorrir como que a pedir, salva-me, tu que conheces o tempo em que eu era feliz, leva-me de novo para lá. Eu conhecia esse sorriso, era também o meu às vezes. Muitas vezes. O Facebook... pois. Vejo as fotografias dele naquele tempo e a expressão é aquela de que me lembro, a jovialidade, a irreverência e sempre aquele sorriso aberto de quem é feliz. E também no Facebook, vejo as fotografias dele hoje, tão diferentes das do antigamente, vejo-o triste, o olhar apagado, sinto sofrimento naquele rosto. Sei que vive cá na terra, sei que é casado, que tem filhos pequenos, mais novos que os meus. E sei também que não é feliz.
Subscrever:
Mensagens (Atom)