1.8.10

Plástico

Sempre que vou a Trás-os-Montes venho de lá com a sensação que a minha vida é de plástico. Descartável. O ambiente agreste lá de cima faz-me sempre pensar que não dou o devido valor às coisas. Caio sempre num estado de espírito que me atinge como um balde de água fria. Volto sempre a achar que ali sim, se vive verdadeiramente. Ali, nas aldeias de Trás-os-montes, onde se trabalha a terra, onde as estações do ano comandam o ritmo da vida, onde tudo é díficil e vem apenas do trabalho, ali é que se vive. Aqui, onde tudo é fácil, onde tudo se compra feito, onde tudo se desperdiça, aqui a vida é de plástico, não conta. Nem se trata de ter mais ou menos dinheiro, de ter mais ou menos poder de compra, é o trabalho, é o levantar de madrugada, é o frio, é o ter a canseira de fazer as coisas mesmo que custe, senão não há frutos, senão não se come, senão não há nada. Não sei explicar porquê mas no fundo, tenho a convicção que aquelas vidas difíceis valem muito mais do que a minha.

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