13.5.14

Conversas

Juntam-se 7 mulheres com idades compreendidas entre os trinta e os quarenta e dois anos.

2 delas têm um filho com menos de 2 anos
1 delas está grávida do segundo filho
1 delas não tem filhos e não é casada
1 delas tem um casal, a menina com 7 e o menino com 12
2 delas têm um ou mais filhos com mais de 10 anos e são as únicas divorciadas

De que se fala todo o dia, além de trabalho?

 Fraldas, papas, mamas, partos, sopas, roupa e sapatos de bebé, pediatras, otites e gastroenterites, vacinas, sogras, cunhadas, creches, infantários, educadoras, etc… etc… etc…
Às segundas, também se fala de novelas, ou programas de entretenimento de sábado e domingo à noite.
Muitas vezes também se fala de supermercados, promoções, bacalhau, cabrito, refogados, bolos de chocolate, pudins de ovos.
De vez em quando fala-se de roupa a secar, de marcas de detergentes, de limpezas e arrumações.
Muito raramente discutem-se algumas lojas e marcas de roupa e trocam-se informações sobre os tamanhos de cada marca, sobre a durabilidade das peças e sobre maior ou menor facilidade para fazer trocas.

Nunca se fala cinema, de literatura, de concertos ou qualquer espetáculo que seja, de viagens, de diferentes culturas ou de documentários na televisão.

Quando se fala da empresa é sempre tudo mau, porque nunca trabalharam noutra.

Ainda bem que possuo uma grande capacidade de abstração e desligo o aparelho auditor a maior parte do tempo. Sinto-me uma completa extraterrestre perdida no meio destas pessoas.

 Vale-me uma delas (a outra divorciada) que me compreende e se sente tão perdida como eu no meio das outras.

Confessou-me recentemente que também teve de aprender a desligar porque estava quase a enlouquecer e que agradeceu às alminhas todas eu ter chegado (um ano depois dela).

Comunicamos através de olhares e ficamos absolutamente espantadas com as coisas que (ainda) ouvimos durante o horário de expediente.

5 comentários:

grassa disse...

E sexo? Não se fala de sexo?

Ou essas senhoras tornaram-se assexuadas como efeito secundário do aborrecimento que é a vida delas?

jacklyn disse...

Nada. Muito de longe a longe, alguém faz uma alusão muito subtil.

Tudo muito envergonhado.

Dá para desconfiar, não achas?

grassa disse...

Desconfiar? Pelo contrário. Acredito convictamente que não deve existir muito disso na vida delas, na medida em que uma pessoa tende sempre a falar muito mais avidamente das suas práticas comuns.

Se te serve de algum consolo, as "meninas" aqui do meu local de trabalho também operam nesse sentido.
Tiveram quase todas filhos recentemente, e ostentam na testa um post-it que diz "Ter um filho implica abdicares por completo da tua vida e ficares sem tempo para mais nada".
Só me dá é vontade de lhes aviar chapadas naqueles focinhos até lhes saltar esse estúpido desse post-it e a retórica imbecil que ele apregoa e estas "meninas" promovem à boca cheia.

jacklyn disse...

Eu desconfio sempre das sonsas, ou das muito púdicas...

Quanto aos filhos, penso que há dois tipos de mães:

- as que tendo alguém de confiança por perto conseguem deixar os filhos e fazer algumas coisas necessárias ao equilíbrio mental, tais como ir ao cinema, ir ao ginásio, ou ir tomar um café com as amigas para espairecer.

- as que não conseguem largar os filhos, não porque não tenham alternativa, mas porque não conseguem, porque não confiam em ninguém e a criança só está bem é com a mãe e são as melhores mães do mundo, e ficam preocupadas e por aí fora.

Claro que há quem não tenha ninguém a quem deixar uma criança, e esses casos são difíceis. Ofereço-me frequentemente para tomar conta de crianças das minhas amigas, para elas irem ao cinema, para irem jantar fora, ou para irem para os copos.

Eu não sou assim, sou mãe e amo os meus filhos acima de tudo. Mas para bem deles também, faço questão de tentar manter a minha sanidade mental e para isso preciso de fazer coisas para mim e por mim, e por eles.

grassa disse...

Esqueceste-te daquelas que não têm mais vida para além do seio familiar porque... não querem.

Porque não está nelas serem pessoas de sair para tomar um copo e/ou ir ao cinema e/ou ir ao teatro e/ou viajarem e/ou etecera.

Não são nem nunca serão esse tipo de pessoa. E por mim tudo bem, se é isso que as faz feliz.
Não contem é comigo para lidar socialmente com elas. :)