17.9.12

Verdades

Pedir desculpa serve, basicamente e na grande maioria das vezes, só para que quem o faz se sinta melhor consigo próprio. Assim como contar a verdade, às vezes só resulta em sofrimento de quem ouve, independentemente de se poder bater com a mão no peito e afirmar que se é honesto, cagando-se de alto para quem tem de ouvir, engolir, e sofrer. E é rídiculo que se ache que por ter contado a verdade já se merece tratamento menos duro, uma palmadinha a atenuar a asneira. Há verdades que nunca devem ser ditas, não mudam nada. Só aliviam a consciência de quem as conta e destroçam quem as ouve. Nas infidelidades é óbvio que quem conta ao cônjuge que traiu só espera aligeirar o peso na consciência, espera ser perdoado só por ter contado a facada, vês? podia ter estado calado mas fui sincero. Ora merda. Ninguém quer saber que foi traído, pois vê-se forçado a tomar uma decisão. Ou perdoa e demonstra fraqueza ou não perdoa e rompe, o que talvez não tenha estrutura para fazer. Fica-se mal de uma forma ou de outra, mesmo que se faça um pé de vento e se grite, esperneie e leve tudo à frente. Quem é traído e abandona nunca fica por cima, ainda que pareça que sim. Contar uma verdade destas é cruel e trucidante. Quem trai e sente culpa tem de guardar só para si, tem de carregar o peso sozinho. Pode ser que um dia passe. Ou não. Mas tem de arrecadar com as consequências sozinho.

7 comentários:

CB disse...

Jacklyn,
Quase sempre a verdade é uma faca de dois gumes. Tem vezes de ser muito dolorosa (quantas vezes a sinceridade é a maior brutalidade?), e por outro lado, responsabiliza-nos.
Pergunto-me, na situação que referes, se será maior a indignidade de não saber, ou a "indignidade" de se saber e ficar? (se acharmos que perdoar é uma "fraqueza", pode não ser...)
Mas concordo que a decisão de contar deve ter em vista o bem do outro e não um alívio próprio. Deve considerar se o outro é pessoa de querer saber ou preferir ignorar (e pensar no risco de se descobrir por terceiros, acho que isso é ainda pior). Mas na verdade, que consideração se pode esperar de um traidor?
Beijo
Princesa

grassa disse...

Serve de alguma coisa dizer-te que não concordo? :)

jacklyn disse...

Princesa, quando falo em fraqueza é no sentido de abrir um precedente e dar abertura à desconfiança, porque acho que perdoar requer muito mais força e coragem do que partir tudo, que é possivelmente o primeiro impulso. Ainda assim, considero que primeiro há que saber o que significa a traição e o que é que põe em causa, só depois se deve contar (ou não). Porque depois de sabermos não podemos voltar atrás. Aí sim, muda tudo. Mesmo que se escolha perdoar ou ignorar, não se fica igual.

jacklyn disse...

grassa, claro que sim. Tens todo o direito de discordar. E eu gosto de ti na mesma ;)

Tania regina Contreiras disse...

Fiquei pensando se a "verdade" (o que será ela, mesmo?) só pode ser dita por palavras, penso que não. Falamos a "verdade" com muitas linguagens. Levá-la à instância da palavra é virtude? Vale a pena? Constroi ou destroi? O outro quer ouvir? E traição, o que seria mesmo?
Pensando....
Beijos,

jacklyn disse...

Sim Tania, é verdade. Tudo depende, as situações nunca são as mesmas e as pessoas também não.

CB disse...

Jacklyn,
Uma total verdade: não se fica igual. Mas acho que muda tudo, quer se saiba ou não. Deixo-te esta reflexão:
Às vezes, talvez seja melhor ficar com a perturbação de não saber, ficar com a dúvida que nos permite nada fazer ou justificar com a ignorância o que quer que se faça, do que com a inquietude da resposta, a certeza que nos obriga a agir ou, pelo menos, a aceitar a responsabilidade pelo que quer que [não] se faça. Por outro lado, em cada acontecimento na vida, cruzam-se muitas linhas de causa-efeito, que nem sempre são óbvias [para nós e para os outros] e que muitas vezes desencadeiam efeitos inesperados. Faça-se ou não se faça, o que quer que seja tem sempre um resultado. Não há zeros nestas equações - para ninguém.
Beijo para ti,
Princesa