4.1.11

Marcas

Ontem tive de tomar a decisão de mandar colocar uma pedra no chão para que se não queime a madeira que mandei pôr no chão da sala. É melhor, disse o homem, porque aqui, por baixo da porta do recuperador de calor é provável que caiam pedaços de carvão ao chão quando se abre a porta. É verdade, pensei, mas também pensei que não gosto nada da ideia da pedra e que não me importo nada que o chão de madeira venha a mostrar marcas de queimaduras. Assim como não me importo com nenhuma outra marca que a minha casa venha a apresentar por causa do uso. As coisas são para se usarem, as casas são para se usarem. Os sofás rompidos, pedaços de madeira, brinquedos ou livros largados são marcas de vida dentro de uma casa. A lareira suja tudo, pois suja, mas aquece, o corpo e a alma. O sofá rompido é feio, pois é, mas reconforta, dá alento e dá sossego, ao corpo e à alma. Uns brinquedos e uns livros largados aqui ou ali dão ânimo e dão vida. Ao corpo e à alma. Ainda nem sequer está pronta, mas estou morta que a minha casa nova fique velha, que ganhe vida.

4 comentários:

Isa disse...

Como te percebo, a alma duma casa está nessa desorganização, é nisso que sossegamos a nossa, que nos organiza. Como eu te percebo.

jacklyn disse...

Tal e qual Isa, tal e qual.

Cláudia disse...

Ora em vez de mandar colocar uma pedra fazia como eu e colocava um dakeles tapetes feitos de trapos que aguentam toda e qualquer centelha que se lhes caia em cima. Confesso que tenho algumas marcas no chão junto à lareira mas ainda bem que as tenho pois elas contam histórias de uma casa vivida.

Claudia

jacklyn disse...

Concordo Claudia, todas as marcas de uma casa são marcas de vida. Cedi e mandei colocar a pedra, é verdade, mas o tapete de trapo vai por cima, já o tenho à espera :):)