19.10.14
Velhice
Estou para aqui derreada, a realidade pesa como cimento e cansa. Esqueci-me que tenho praticamente quarenta anos e não só saí anteontem à noite, como, distraindo-me, também saí ontem à noite. Na sexta-feira fui jantar com a malta do curso e depois fomos beber um copo no centro de Braga, fiquei a conhecer um bar magnífico (Estúdio 22) onde se ouvia, entre outros, David Bowie e Rolling Stones. Bom de ver, as pessoas dentro do bar nasceram todas na década de setenta, ou mesmo na anterior, senti-me bem, foi bom. A minha velhice atacou-me por volta das três da manhã, quando já com o sono a aparecer comecei a ficar inquieta com o facto de ter de conduzir até Guimarães, porque me aterroriza a ideia de adormecer ao volante. Todavia correu bem, acredito que porque decidi vir pela estrada nacional, cheia de curvas, em vez de optar pela autoestrada, já que ainda que seja uma viagem de poucos minutos é muito mais monótona. Ontem, já depois da limpeza geral da casa, atirei-me para o sofá e adormeci. Ao fim da tarde, fui desafiada para jantar no Porto e para ir a um evento chamado 20-XX-vinte. Como disse, completamente distraída do facto de me ter deitado tarde na noite anterior, e do reumatismo a queixar-se da faxina, aceitei. O pormenor de ser levada e trazida contou bastante, confesso. Com as mesmas pessoas, que me são muito queridas, a verdade é que o mesmo programa teria sido recusado se tivesse de conduzir - lá está a velhice - gosto muito de conduzir, mas é de dia, ou se for de noite, nunca depois de jantaradas e bares, ainda que beba apenas água. E, apesar do evento não me ter agradado especialmente, foi uma noite muito bem passada, com pessoas fantásticas e diverti-me muito. Como já não me lembrava. Andei por sítios que frequentava há uns quatro ou cinco anos e soube-me bem recordar aqueles tempos. Mudei tanto desde então. Estou mais velha, mas estou muito mais cansada, e com muito mais consciência do que fui, e do que sou. Agora sou aquela pessoa que prefere ficar em casa, no sossego. Que prefere não ter nada para fazer, não ter compromissos. Que tem muito pouca paciência para coisas que antes a entusiasmavam e faziam sentir-se viva. Não sei muito bem o que é que me sobra. Se é que sobra alguma coisa.
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2 comentários:
Claro que sobra. Sobra o tempo para ti para descobrir um novo amor que acende o entusiasmo.
Deve estar quase a aparecer por aí. ;)
Caro anónimo, e onde é que viu isso? Nas cartas? Ou na bola de cristal? :D
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