11.3.12
Desilusão
Ouvi no outro dia um escritor famoso dizer que a primeira frase do primeiro romance que escreveu foi muito bem pensada. Que pensou, pensou, pensou até que a frase fosse perfeita, pois o objetivo era que prendesse a atenção do leitor. Desilusão. Eu achava que quem escreve o faz porque tem de o fazer, porque lhe vem de dentro, do coração ou das entranhas, ou porque a ideia lhe martela na cabeça até ser libertada através de letras e palavras, simplesmente por necessidade de escrever, como o pintor tem de pintar e o compositor de compor, de materializar o que lhe vai na alma ou de dar vida a demónios e monstros capazes de feitos inconfessáveis, ou de fazer emergir pessoas e vidas não vividas mas imaginadas em turbilhões de imagens mentais, e nunca para agarrar a atenção de alguém ou a pensar se quem lê irá gostar. Sempre achei que o escritor escrevia primeiro para si. Sou mesmo ingénua. E parva.
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3 comentários:
Pensava e penso eu, ainda, que se o resultado não vem da honestidade de sentir e, sim, de obter sucesso, se nada está errado no texto, está na alma.
beijoss
Escreve-se pelo dinheiro, acho. Por isso vou gostando de ler clássicos, quando o que se escrevia não ia a reboque das editoras. Hoje em dia sinto-me usada como cliente, não falo apenas de livros, e, talvez por isso me esteja a tornar cada vez pior cliente ou, pelo menos mais exigente.
Tinh
Não sou escritora mas imagino que quem escreve (escreva lá o que escrever, inclusive blogues) e publica, primordialmente quer ser lido. Isso implica prender a atenção das pessoas desde o primeiro parágrafo.
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