6.2.12

Tola

Percebi aqui há dias, no dia 2 de Fevereiro para ser precisa, que na véspera teria sido o décimo quinto aniversário do meu casamento, claro, se estivesse casada. Estava à mesa, em casa dos meus pais e falavamos no dia do aniversário do meu irmão, que era dali a dias, e que entretanto já foi. E a minha mãe, pergunta-me sorrateiramente se não tinha feito anos que eu casei. Tive de pensar, juro que não tive a certeza, mas sim, tinha feito anos que casei. É assombroso como esse facto se apagou completamente da minha memória, assim como também desapareceu a marca do dia em que nos separamos, o dia em que ele efetivamente saiu de casa. Passo por esses dias sem me ocorrerem os eventos, tanto o casamento como a separação. E devo acrescentar que o dia do divórcio também passa despercebido, é que na véspera de ano novo, há outras coisas em que pensar. A minha mãe nunca compreendeu bem esta minha característica, ela acha que sou um bocado tola, mas a verdade é que pouco tempo depois de estar sozinha, não me lembrava sequer que ali tinha vivido aquela pessoa. Desapareceram as memórias, todas, as más e as boas também. Vivo naquela casa como se ali sempre tivesse vivido sem ele, nem me lembro que ele existe. Todos os dias sou confrontada com a existência dele, ele telefona aos filhos todas as noites, e os filhos falam nele frequentemente, mas isso permanecer na minha cabeça é outra coisa completamente diferente. Não fica nada. A minha mãe diz que sou tola, vivi com um homem durante doze anos, tive dois filhos dele, e nem me lembro que ele existe. Temos uma relação perfeitamente cordial, falamos o que temos de falar, combinamos as coisas conforme nos dá jeito, somos flexíveis em relação a horários, fins de semana, almoços e jantares de família que calhem fora de tempo estabelecido, sem qualquer problema ou hostilidade, conheço a namorada dele e damo-nos lindamente, ele entra lá em casa quando vai buscar os miúdos e circula pela casa toda, cumprimentamo-nos e despedimo-nos com dois beijos como se fossemos amigos, mas mal ele sai, puff... desaparece, esfuma-se, como se nunca tivesse existido. Devo ser tola, serei?

6 comentários:

Isa disse...

Datas, passam a não querer dizer nada, quando o que se assinalou naquela altura passou a não ter importância.São só dias, iguais a outros dias. Não seria normal celebrarmos o que já não há que celebrar.
Não és tola, és livre.

Bípede Falante disse...

Pois eu acho que você é muito inteligente :)
Beijosss

grassa disse...

Eu acho que tu és Alzheimer.

jacklyn disse...

Sim grassa, sou Alzheimer por parte do pai e Parkinson por parte de mãe :):) Jacklyn Parkinson Alzheimer, muito prazer.

Não sei se sou inteligente Bípede, o que eu tento é não complicar, nem sempre se consegue, mas tenta-se :)

Sou Isa, destas coisas sou completamente livre. O que não quer dizer que também não seja um bocado tola, mas isso são outros quinhentos :):)

Pulha Garcia disse...

Jackie,

eu acho que o mais importante é o caminho que está à frente. O resto foi o melhor que se conseguiu ... não há manuais para estas coisas.

Provocação 'aka' Menina Ção disse...

Acho que o teu inconsciente trata de de te ajudar a seguir em frente e saudável. Não há nada de tolo nisso. Fossem todas as ex como tu e acredita havia muito menos gente enlouquecida na terra. Podia contar-te histórias de mulheres que, essas sim, tolas, tolíssimas.