23.12.11

Mulheres

Peles brancas, com sardas, morenas. Cabelos compridos, curtos, ondulados lisos. Rabos gordos, ossudos, flácidos e rijos. Redondos, achatados, outros descaídos. Mamas, muitas mamas, umas saltitonas outras tristes. Mamas frondosas e mamas tímidas, mamilos grandes, mamilos pequeninos, uns rosados outros negros. Cremes e óleos, peles lisas e lustrosas. Peles estriadas e engelhadas. Peles viçosas, espinhas cheias de pus, cicatrizes e eczemas. Corpos, muitos corpos, a granel, por atacado. Vapor, suor, rostos vermelhos, afogueados. Cheiro a sapatos transpirados, a axilas suadas, a bafos sedentos. Desodorizantes e perfumes e produtos de cabelo. Às vezes reparo mais num corpo ou noutro. Gosto de corpos, de espiolhar corpos, se pudesse via-os até por dentro, como numa autópsia. Gosto das barrigas e das coxas. Cheias de celulite ou musculadas, não importa. Gosto das curvas férteis das mulheres, e não me fazem impressão nenhuma as velhas com as peles descaídas e os ossos tortos. Só há uma coisa, absolutamente democrática, há em novas em velhas, em gordas e em magras, em boazonas e em arrombadas, que me mete nojo. Que me desilude e me deita por terra. Olho-lhes para as unhas dos pés e muitas delas, é ver literalmente o verniz a estalar. Unhas de pés pintadas de cores fortes com o verniz todo descascado e algumas, lá pelo meio, até já sem nenhum. Que nojo. É nestas coisas, nas que não estão à vista, que se vê a elegância de uma mulher.

1 comentário:

Sofia disse...

Por isso é que quando entra a bota, sai o verniz. Dá-se descanso às coitadas das unhas que andam o verão inteiro mascaradas

Excelente texto Jacklyn