28.2.11

Comida

Estou exausta. Os miúdos voltaram definitivamente a casa. Pareciam loucos. Ai que saudades mãe, a casa está tão bonita mãe. Nem sabiam o que fazer, para que lado se virarem. Jogaram à bola no jardim, ficaram como ferreiros, todos suados, cheios de relva e de terra. Depois do duche, viram a varanda toda arrumada com os brinquedos todos em ordem, e ao abrir as gavetas e percorrer as estantes, ei, que saudades deste carro, que saudades deste jogo, já nem me lembrava. Depois os dvd's, olha este filme, que saudades, podemos ver? Podemos. E o que vamos jantar? Não sei, o que acham? Vamos às compras e decidimos o que vamos comer? Ena, vamos. Fomos. Escolheram picanha. Seja. Chegamos a casa e trinta minutos depois, eles ajudaram,  estávamos a jantar. Depois de tudo arrumado e limpo, eles ajudaram, fomos ao circo. Muito bom. No dia seguinte, o almoço foi comprado porque fomos à missa e não dava tempo, mas o jantar, a velha história. Mãe, o que vamos jantar? Não sei, o que acham? Pizza! Hum... não sei... comida de plástico? Sim mãe, não há problema, pizza mas da que tu fazes, nós ajudamos-te. Seja, vamos às compras e fazemos pizza. Fizemos, todos, uma algazarra total, a loucura, adoramos ver-te cozinhar mãe.
(Nunca conseguirei dissociar a ideia de família e união, da comida, da preparação das refeições e das refeições Pelo menos na minha, está tudo íntima e fortemente ligado)

25.2.11

Descubra as diferenças

Através de uma amiga de escola descubro no Facebook o grupo da nossa escola e delicio-me a ver as fotografias da malta naquela altura. Percorro os perfis e há os que reconheço imediatamente e os que se se sentassem ao meu lado no cinema ou no café não passariam de mais um desconhecido. E divertida, vou andando e vendo, rindo com as fotos dos jogos de futebol, festas e passeios. Até que me deparo com uma fotografia de um passeio e piquenique, e temos lá escarrapachados os comentários dos que lá aparecem. E o que me chamou a atenção foram os comentários de um casal, do meu tempo, da minha idade. Eles começaram a namorar lá na escola, recordo-me perfeitamente dela chegar à escola e dele ter ficado deslumbrado com ela, a ponto de nunca mais a ter largado, a ponto de ter conseguido que ela deixasse o namorado que tinha e ter casado com ele. É aquele tipo de casal que no Facebook tem as fotografias das férias, com os dois filhos ao pé da piscina, a família perfeita, os comentários dos amigos, ai que lindos, ai que apaixonados, ai os meninos que engraçados, e por aí fora. E na puta da foto do passeio, bato com os olhos no comentário dele, este dia mudou a minha vida, foi neste dia que comecei a namorar com a mulher que está comigo hoje. E o comentário dela, foi neste dia que comecei a namorar com o meu marido lindo, graças a este dia tenho agora dois filhos lindos. Sou só eu que vejo aqui uma diferença? Sou?

23.2.11

Tiny little things

No segundo em que me sentei na cadeira pensei de mim para mim: mas que bom que é estar sentada a apanhar Sol numa esplanada e dou-me conta que um prazer tão fácil e simples me passa tanto ao lado. Triste não é não conseguir fazer coisas difíceis, triste é não conseguir fazer coisas fáceis.

Ciúme #1

Há meses que não escrevo sobre os meus filhos, porque durante estes meses fora de casa e a partilhá-los com os meus pais experienciei um sentimento detestável cuja origem começo a identificar mas que ainda não consegui digerir. Abro-lhe a porta apenas, a este sentimento, não ouso deixá-lo sair, ainda é cedo.

Puzzle

E à medida que tudo em minha casa começa a voltar ao devido lugar, à mistura com algumas coisas novas que naturalmente encontraram também o seu lugar, dentro de mim, tudo começa a desmoronar.

22.2.11

Dona Rosa

Dona Rosa enviuvou aos cinquenta e cinco anos. Dona Rosa, muito senhora do seu nariz resolve casar-se com o Senhor Antunes, senhor muito respeitável, de boa apresentação, asseado e educado, cristão católico e praticante, uma boa reforma, enfim, tudo o que se pretende encontrar num marido ideal para combater a solidão dos anos dourados da vida de uma pessoa. Pois casam-se Dona Rosa e o Senhor Antunes, e dos cinco filhos de Dona Rosa, três zangam-se. O Senhor Antunes não teve filhos com a sua falecida esposa. As duas filhas que se conformaram o segundo casamento da mãe estão hoje perante um grande problema nas suas vidas. Passaram-se vinte anos desde que a mãe se casou. Ouvem-na agora queixar-se que não consegue aturar o Senhor Antunes, que é um chato e que não pode mais. O Senhor Antunes, coitado, confessa que Dona Rosa, hipocondríaca de primeira linha, mimada e caprichosa, lhe dá cabo do juízo. Estão velhos, Dona Rosa e Senhor Antunes, já não deviam estar sós. E as filhas? Não se chegam? A mais nova entende que a mais velha, que já não trabalha terá mais disponibilidade para tomar conta dos velhotes. A mais velha reclama que se fosse só a mãe a levaria para sua casa, mas o padrasto... isso não, tem a filha já casada a viver noutra cidade, desvia-se do problema e vai passar longas temporadas em casa da filha. A mais nova, vive num apartamento no oitavo andar, os velhotes não querem ir para lá. Dizem as más línguas, Dona Rosa, muito senhora do seu nariz, casou-se sem precisar da licença de ninguém, não escutou ninguém, agora que está doente e farta do marido, que se desunhe. Dona Rosa nunca cultivou o afecto dos filhos, nunca esteve disponível para ajudar fosse no que fosse, sempre independente e senhora do seu nariz. Sempre com a língua afiada, nunca murmurou um mimo, nem aos filhos, nem aos netos. Dona Rosa colhe agora o que ao longo da vida semeou, não espere carinho quem nunca acarinhou.

14.2.11

Foi você que pediu?

The real thing, é a minha.






(esta noite já durmo chez moi)

13.2.11

Nem acredito

Os móveis estão todos dentro de casa, à excepção das camas dos putos, que estão todas fodidas e vão dar lenha e lugar a um beliche, os putos estão contentíssimos com a ideia, da minha cama que vai ser forrada, e de um armário e uma cómoda que vão ser restaurados. Ontem levei uma coça monumental a limpar todos os restantes móveis enquanto os homens iam buscar a próxima carga ao armazém. À noite doía-me tudo, mas pior, doía-me a perna defeituosa. Há quase um ano que não sentia aquela dor. Vou acreditar que foi do esforço, prefiro acreditar nisso. Adiante. Agora que os móveis estão no sítio é preciso tratar do resto, por isso programei tirar a semana. Sim, férias, mas a trabalhar chez moi. Vou fechar-me em casa e só saio quando tiver terminado (as aulas não contam, claro que não vou faltar). Vim agora ao escritório organizar uns assuntos para a minha colega dar seguimento durante a semana e desapareço do mapa durante uma semana. Quando aparecer espero já estar a morar de novo lá em casa. Ufa, já não é sem tempo. Nem acredito.

10.2.11

Abuso

Mas ele tratava-te mal? Perguntaram-me acerca do meu ex-marido. Se por tratar mal entenderes que me batia, que me insultava, que me impedia de fazer o que eu queria, fosse isso sair ou ficar em casa ou que me proibia de falar com alguém, ou que não me desejava sexualmente, ou que me achava uma má mãe, não, nunca me tratou mal. Mas, se por tratar mal entenderes que me fazia sentir que eu não era suficientemente boa para ele, ou que me dizia que tudo o que eu fazia, se tivesse sido feito por ele teria sido feito muito melhor, ou que porque eu gosto de cinema e conheço os realizadores e os actores me fazia sentir fútil, ou que eu era uma burra e ele só estava comigo porque lhe convinha, ou porque profissionalmente me considerava menor porque não tenho um curso superior apesar do meu salário que não é nada mau ter o seu peso no orçamento familiar, ou porque me desiludiu muito ao longo dos doze anos que estivemos casados sobretudo porque todos os dias me fazia sentir que os meus sentimentos para ele eram merda e o que ele achava é que estava certo e nada do que eu dissesse ou fizesse era levado em conta, sim, tratou-me muito mal. E eu deixei, depois disse basta e a seguir divorciei-me. Haverá talvez mulheres para quem tudo aquilo que eu considero faltas de respeito para comigo não constitua problema algum. Haverá talvez mulheres para quem nem mesmo uns tabefes nas trombas constitua motivo válido para um divórcio. Deixem-se estar. Eu aprendi muito cedo, se bem que não muito cedo o apliquei, que quem não está bem, põe-se. Eu pus-me.

9.2.11

Bulldozer

Não é frequente mas há momentos na minha vida em que sou tomada pelo espírito bulldozer. Como quando contra tudo e contra todos fui sozinha para Lisboa, à base do Lumiar fazer testes para a Força Aérea. Ou como quando decidi que o meu casamento não continuaria nem mais um minuto e sabia perfeitamente que o mundo iria desabar mas não me preocupava nadinha com isso. Esses momentos sao extraordinários. São momentos em que tenho a certeza absoluta daquilo que quero e o resto do mundo que se foda. Nesses momentos, como um bulldozer, levo tudo à minha frente. E levo mesmo, a força vem-me não sei bem de onde e sinto-a percorrer-me o corpo como se fosse uma droga potentíssima que me transforma numa máquina gigante trabalhando arduamente para atingir o seu objectivo. Depois, há os que me acompanham e há os que ficam para trás.

7.2.11

Consumições

1. Separar o que vai para o lixo e o que fica, limpar e arrumar de volta para o lugar, ou não, pode muito bem ir parar a outro sítio, depende. mas interessa mesmo é desimpedir a passagem para que no próximo sabado, se não chover, os móveis possam regressar a casa. Esta semana, à noite, tirando quarta e quinta-feira que tenho aulas, vou alombar com a limpeza das merdas (não foram muitas, vá... mas algumas) que lá ficaram em casa durante as obras, tapadinhas mas que ficaram cheias de pó na mesma, e que estão amontoadas na varanda das traseiras.

2. Começar a dieta (amanhã, isto vai ser lindo, vai) para perder os 6 quilos que desde Setembro, uniformemente se me agarraram ao rabo, coxas e mamas mas fico lixada porque se me incomoda o volume a mais que me impede de entrar em todos os pares de calçar que tenho menos um, nas mamas até nem me importava que ficasse um quilito, metade em cada uma, mas enfim, começo a dieta e lá se vão as mamas. Mas tem lógica, não fumo logo tenho mais apetite; mais apetite, mais comida; mais comida, não entro nas calças; não entro nas calças, faço dieta; faço dieta, fico sem mamas. Deixo de fumar, fico sem mamas, tem lógica.

3. Chatear a cabeça ao homem das cozinhas porque estão lá os móveis mas faltam as pedras que vão por cima e aquilo tem de ficar feito esta semana, mais precisamente na próxima quarta-feira conforme me prometeu, porque quero que os homens das limpezas tratem de vida na sexta-feira e se o gajo falha estraga-me o esquema todo. Sábado voltam os móveis. Ah, já tinha dito isto.

4. Fazer de polícia no escritório para que as peças que tenho de enviar o mais tardar na sexta-feira não falhem pois na segunda-feira começa uma feira e o meu cliente quer apresentar a colecção de Inverno 2011/12, e já vai um bocado tarde porque os outros cliente todos já estão a desenvolver a colecção de Verão 2012. É que na próxima semana vou estar de férias descansadinha, a trabalhar que nem uma mula lá em casa a colocar tudo no devido lugar, e não quero estar a ser incomodada com chamadas do cliente furioso porque lhe faltam modelos na feira.

5. O puto mais velho começa a época de testes hoje. Tenho de estar atenta a ver se o gajo estuda, e se estuda como deve ser. Normalmente é mais de uma semana.

6. O carro está a fazer um barulho estranho, não percebo nada de carros, mas aquele ruido não é normal, tenho de o levar à oficina antes que avarie.

(não sei se dou conta desta merda toda, a sério)

3.2.11

Bad Girl

Não custará nenhuma fortuna comprar um bilhete de avião, reservar hotel para uma ou duas noites e alugar um bicho destes e arrancar em direcção aquela auto-estrada alemã onde não há limite de velocidade, pois não?

Bad boy






De todos as figuras másculas que, como a qualquer adolescente, me fizeram sonhar, esta tem ainda hoje um efeito algo perturbador em mim. Sempre teve ar de "bad boy", mas o timbre da voz e o olhar contradizem o corpo musculado e a atitude firme que independentemente dos personagens, sempre lhe vi. Os anos passam e o efeito permanece, a voz continua segura, calma e quente, e o olhar doce e sereno. Este senhor, para quem não conhece, é actor da TV Globo e chama-se Humberto Martins.