17.4.10

Isto ia ser um comentário, mas é tão longo que mais vale ser um post

E agora já depois do tal colóquio sobre a violência no meio escolar.

Os oradores:

1) Um sociólogo, conheço-o desde pequeno, um rapaz em condições, explicou o que é o bullying e como se identifica. Já sabia.

2) Uma psicóloga, nada de novo, o diálogo e tal, mas falhou em focar pontos essenciais que tive o prazer de ser eu a trazer quando deram a palavra ao "público".

3) Um padre, o da freguesia, um gajo do caralho, professor universitário de Filosofia, e o único que pegou no touro pelos cornos, sim senhor, gostei.

4) Um dos professores do agrupamento, ok, mais ou menos. Por acaso é o coordenador do clube de xadrez do mais velho.

Ou seja, nada do que se disse ali me trouxe algo de novo, e o único que disse as grandes verdades foi o padre. Ah pois é!

E esta merda, que ninguém me foda, começa em nós pais e nas nossas responsabilidades. Eu levei uns estalos e umas palmadas quando era miúda e asneirava, não fiquei traumatizada. Hoje, se o menino bate ao colega na escola é porque vive esses problemas em casa, coitadinho, ou porque leva porrada do pai, a família vive em condições muito precárias, etc... Nem sempre, e foi o que eu disse no final, é que muitas vezes esses agressores de meia-tigela são putos mimados, de famílias financeiramente bem posicionadas, que nunca foram contrariados e que acham que podem fazer tudo o que querem e lhes apetece e que ninguém lhes faz nada. Se a escola calha de chamar os papás, ainda se riem e dizem que os filhos são os maiores. Pois eu digo que se um dia alguém me vier dizer que um dos meus filhos bateu ou de alguma forma faz mal a um colega, o gajo leva-me semelhante coça que nem sabe de que terra é, e ponho-o de castigo durante dois anos. O padre foi o único que disse, resumidamente, isto:

- a violência é própria do ser humano, há que canalizar toda essa energia de forma positiva, cabe aos pais orientar os filhos nisso;
- vocês são pais, não são colegas dos vossos filhos;
- vocês sabem mais do que eles, nem que tenham só a 4º classe;
- é vosso dever impôr respeito e ensiná-los a viver em sociedade e a respeitar o próximo;
- instrução não é sinónimo de educação.

Eu concordo com isto tudo, dê-se-lhes amor, e muito, mas amá-los também passa por dizer-lhes que não e prepará-los para lidar com as frustrações que a vida lhes trará. Não podemos ampará-los para sempre e além disso eles precisam da figura de autoridade para se sentirem seguros.

E digo mais, um par de estalos na hora certa vale mais do que qualquer psicologia.

Por exemplo, no início do primeiro período o mais velho queixou-se que um dos colegas da turma lhe mandava uns cachaços e uns empurrões no corredor. Disse-lhe, tens bom corpinho, defende-te. Mas se a coisa correr mal, diz ao miúdo que eu vou lá e que lhe parto a cara e depois vou falar com o director de turma, mas parto-lhe a cara primeiro, ouviste? Não sei bem o que o meu filho fez, mas o que é certo é que o puto nunca mais o chateou.

Estou convencida que isto do bullying é culpa dos papás. Desafio quem tem mais de 25 anos a dizer que não tinha respeitinho aos pais e que se fizesse merda não levava umas palmadas no rabo ou um par de estalos. Ai de quem faltasse ao respeito ao pai ou à mãe. É verdade ou é mentira? Este fenómeno recente deve-se à demissão dos pais do papel de educadores. A malta da minha geração, recuo mesmo uma dezena de anos, que não disponibilizando tempo para os filhos, porque trabalha muito e ai que hoje em dia o stress e mais essas merdas todas, compensa os miúdos com tudo o que eles querem e não estão para se chatear a contrariar os meninos, porque é muito mais fácil ter o puto sossegadinho a ver televisão ou a jogar playstation do que a chatear-lhes a cabeça, é a verdadeira culpada do bullying. Mas, que caralho, eu tenho uma profissão que me absorve bastante, contudo o tempo que passo com os meus filhos, que não é assim tanto quanto eu gostaria, passo-o com eles e não na mesma casa que eles, ou no mesmo espaço que eles. Quando eles têm tudo o que querem, além de não darem valor a nada, crescem convencidos que basta querer que têm, que fazem dos adultos o que querem e que podem fazer tudo o que lhes apetece sem sofrerem as consequências. Depois na escola, nada os impede de desrespeitarem tanto colegas como professores, sabem perfeitamente que os pais não vão fazer nada, porque não estão simplesmente para se chatear, porque não têm tempo ou porque até gostam da ideia do filho ser o mais forte ou o mais arruaceiro da escola.

Os meus até podem descambar e fazer asneirada da grossa, pode acontecer, mas não será por falta de acompanhamento meu, e não será seguramente por falta de um safanão sempre que o mereçam.

5 comentários:

jacklyn disse...

E este há-de ser o meu post mais longo :-)

Bípede Falante disse...

Muito bom post. Não concordo inteiramente porque tenho dificuldade com as palmadas. Nunca soube dar nem levar. Ofendia-me mortalmente ser agredida fisicamente. Todas as poucas vezes que levei um safanão ou algo parecido, fiquei dias sem conseguir olhar para o agressor. Mas sou firme com as palavras, bastante firme. De resto, estou contigo. Os pais realmente estão, como você disse: demitindo-se de seu papel e não há nada mais grave que pais desempregados de sua família. Beijo. Bom final de semana. Bípede

Isa disse...

Sobre os padres: conheci 3 na minha longa vida de cristã que mereceram a minha admiração e respeito. Três!
São raros, pero que los hay, los hay.
Palmadas: sou a favor, olá se sou.
Limites são necessários e quando a palavra não é suficiente, a palmada como acompanhamento serve muito bem. Pelo menos às minhas serviu.
É claro que estamos a falar de palmadas na hora certa e não de descarregar humores, fúrias e frustrações pessoais na criança, que isso são outros tostões. Certo certo é que hoje, finda a época das palmadas ( pois que isto depois acaba, certo?) e as duas lá com o seu temperamentozinho que eu ADORO, pelo na venta e etc - tão diferentes de mim, graças a Deus! - certo é que basta um olhar pra saberem quando estão a invadir território perigoso. Aí vem a argumentação. Uma delícia!
E para mim é aí que se vê o que eles aprenderam sobre respeito e consideração pelo próximo.E o que nos ensinam? Que não temos sempre razão, por exemplo e já dei por mim muitas vezes a dar a mão à palmatória(é figurativo, que era só o que faltava!)
Mas o sublime disto tudo é ver-lhes o respeito no olhar e sentir o nosso por eles enquanto pessoas, independentemente de serem os nossos filhos e pensarmos "eu participei nisto??? num credjito!"

Ou expor-lhes os nossos defeitos e fragilidades e eles, apesar de tudo, olharem pra nós e dizerem "yep! é a minha Mãe!" e aquilo sair-lhes com um "m" todo maiúsculo a rebentar de orgulho...

Foda-se! mandem-me calar pá!

jacklyn disse...

Querida Bípede,
Entendo o ponto de vista, mas às vezes umas palmadas são que nem pão. Os meus diabinhos transformam-se de imediato nuns anjos. Quando tem de ser, não hesito.

jacklyn disse...

Querida Isa,
Eu sei que esta história das palmadas acaba um dia, e isso que tu descreves que tens com as tuas filhas, agora já grandes, se eu conseguir ter um dia com os meus, terei atingido parte do meu objectivo. Sim, porque esse lado da coisa nunca acaba, espero eu.