30.1.12

Máscara

Sim, eu sei que também tem uma máscara, disse-me ela, para logo depois me perguntar se podia tratar-me por tu. Concerteza que sim, é engraçado como todos, naturalmente, me tratam por você. No outro dia houve uma miúda que se referiu a mim como "aquela senhora", o que me fez soltar uma gargalhada. Mas voltando à máscara, se soubesses querida, o trabalho que dá não ter máscara alguma, e o que dói às vezes, se soubesses... O tempo passa e não há paciência para máscaras, isso é para ti que tens dezoito ou dezanove anos, eu já não tenho paciência. As máscaras, querida, vais aprender um dia que só nos tornam prisioneiras de nós próprias, tira a máscara, conhece-te e aceita-te e verás, serás livre. Mas a liberdade, também aprenderás um dia, paga-se.

26.1.12

Era gaja...

...para aprender a coreografia todinha... era, era...

23.1.12

Emoção

O grande, mãe! acho que vou ter um ataque cardíaco! O quê?!? perguntei eu, espantada. Sim, o meu coração está a bater muito! E o pequeno, o meu também mãe! Sinto a música a bater. E o grande, eu também, sinto a música a bater aqui no coração! Eu olhava ora para um ora para o outro, primeiro aflita, mas depois a sorrir-lhes. É da emoção rapazes, é da emoção!

(Estavamos no meio da multidão, apertadinhos como sardinhas numa lata, mas adoramos!)

Espetáculo da Abertura Oficial da "Guimarães - Capital Europeia da Cultura 2012" no Largo do Toural, 21.01.2012

20.1.12

Perdão

Tenho grande dificuldade em perdoar, custa-me muito. Não perdoei o meu ex-marido, divorciei-me. Perdoei-lhe apenas depois. Não perdoei o meu patrão, despedi-me. Anteontem. Talvez um dia lhe perdoe, não sem antes me afastar. Nunca sinto necessidade de me vingar ou de agredir, só de me afastar, de cortar relações e terminar a convivência e a partilha. Depois, muito depois virá talvez o perdão. Não sou capaz de respeitar quem me desrespeita, não sou capaz de sequer conviver com quem me desrespeita, e insistir é violento, violento-me profundamente. Assim, vou-me embora rumo a novas aventuras, mais modestas, mais humildes, mas mais dignas, que a dignidade não tem preço. A minha, pelo menos, não.

8.1.12

Porquê?

Mãe, agora nunca estamos contigo. Porque é que tinhas de ir para a universidade?

(Achei que com duas noites por semana a deixa-los a dormir em casa dos meus pais me safava. Achei mal e tenho de dar a volta a isto no próximo semestre, ou faço menos cadeiras ou simplesmente deixo aquilo. Dói-me demasiado. Não quero ouvir mais o que ouvi hoje. Não quero).

6.1.12

Carne

Retirada a carga do desejo, começamos a observar as pessoas de outra forma. Seja por se ter concretizado a vontade ou seja por despontar a falta dela, quando já não olho para um homem com desejo, vejo-o muito melhor. E se houve de quem gostei menos, outros há de quem gosto muito mais. Outros não, outro, vá.

2.1.12

Fuga

Não tenho desejo nenhum. Um dia atrás do outro. Saúde. Mais nada. Não tenho mais desejo nenhum, estou vazia. Vazia de desejos, vazia de projetos, vazia de amor. Vazia de tudo. Há coisas que gosto e há coisas que não gosto, sinto-me distante de todas, tão distante. Estou a fugir, mas não sei bem de quê. Estou triste, mas não sei bem porquê. Tenho vontade de fugir, estou a fugir desesperadamente apesar de ficar no mesmo lugar. Estou aqui, e todavia tão longe, ainda não parei, ainda não acabei de fugir.